Mas depois de uma retrospectiva sobre a região e o País, não deixar registo do meu 2006 parece-me incompleto; até porque exige a integridade intelectual obriga a assumir que, as nossas vivências influenciam a nossa visão dos outros, a nossa visão da sociedade e do mundo.
Feitos os preliminares, introduzo-me na retrospectiva!
Ao aceder um cigarro (vicio estúpido que ousei afastar), fazendo um esforço mental para recordar 2006 a expressão mais decente para o caracterizar parece-me annus horribilis, por ventura, o pior da minha patética existência. Recordo alguns momentos maus (sem duvida um dia de Setembro que apenas tem paralelo com um longínquo domingo de Novembro em 89); o melhor momento do ano? Recordo um mergulho na praia, sozinho, numa tarde de Verão, onde me perdi no mar salgado, me ofereci às ondas que me devolveram à infância.
Mas terá mesmo sido mesmo um annus horribilis? Acho que só os dias, as semanas, os meses, os anos podem responder por mim…
Procurando optimismo na análise, poderia concluir que foi um ano marcante, intenso, inesquecível (no bom e no mau).
Há anos em que a vida passa por nós, que nos encontram e ultrapassam ser deixar rasto, marcas, memórias, em que nos limitamos a sobreviver e nos esquecemos de viver; mas, de quando em quando, temos momentos em que ousamos viver, em que agarramos a vida nas nossas mãos.
Há uma frase que me acompanham há anos: se no último ano choraste e riste, se sofreste, se tiveste momentos felizes, se tiveste ilusões e desilusões, se te ousaste entregar, se conseguiste receber, se amaste, se magoaste e foste magoado, se tiveste sorrisos e lágrimas no rosto, então, é sinal que viveste! E este ano vivi!
A verdade é que profissionalmente tive um fantástico, com alguns momentos extraordinários, memórias felizes que os anos nunca vão apagar, que tive o especialíssimo privilégio de trabalhar com um grupo excepcional de jovens adultos; a nível pessoal … se 2006 foi uma lástima, tenho a certeza certa que em 2007 vou redescobrir o sol, o sol que sempre esteve ali, mas que nevoeiros e nuvens nem sempre nos permitem contemplar.
Sei, mas sei mesmo, daquelas coisas que realmente sabemos, que o ano que hoje se esfuma fez de mim um ser humano mais completo, mais integro, mais honesto, mais verdadeiro: e, só por isso, vale a pena agradecer aos deuses do calendário ter existido este ano.
Hoje, pelas 00h, vou acender um cigarro; olhar as estrelas, fechar com um sorriso as portas de 2006 e esforçar-me para, pela primeira vez em muito, ter um ano … estupidamente feliz!