quinta-feira, dezembro 24, 2009

Crónica Rádio Pax, sobre excessos, vícios e algo mais importante...

A época de natal e a consequente passagem de ano, são épocas de todos e muitos excessos, alguns mais saudáveis que outros!
Nunca escondi que não acho especial piada a esta época: não por traumas natalícios ou recalcamentos festivos, mas porque me irritam aqueles dias em que somos obrigados a estar felizes e bem-dispostos: especialmente a passagem de ano, mais que uma noite de gritar e pular, sempre me pareceu o adequado momento para introspecção, para fazer uma espécie de balanço sobre um momento temporal das nossas vidas! Mas felizmente nem todos são como eu e reconheço a todos e a cada um o direito de usarem estes dias para comungar com os seus e gritar felicidade ou, pelo menos, para durante umas horas, esquecerem as diabruras de um ano que foi terrivelmente “madrasto” para a esmagadora maioria das pessoas, com medos, incertezas, com a preocupação de um futuro próximo que não augura nada de especialmente bom!
Até porque gosto de vícios e excessos! Bem sei que é politicamente incorrecto gabar vícios e excessos, mas arrepia-me esta visão da vida higienicamente correcta, esta veneração pelos corpos que chamam danone, o culto de uma vida integralmente saudável, sem os pequenos pecados que dão sabor à existência!
Irrita-me profundamente o facto de ser viciado em cigarros: fico possesso comigo próprio quando em noites gélidas de Inverno forço-me a sair de casa para ir a um qualquer sítio comprar tabaco, porque o vício é mais forte que o calor da minha sala e os neurónios congelaram ao ponto de não me recordar de ter escondido em casa reservas de cigarros! De quando em quando pondero abandonar os cigarros! Recordo com tímida nostalgia os três meses em que estive sem fumar, quando conseguia subir escadas sem esforço e correr vários minutos!
Não sou completamente tonto: sou o primeiro a reconhecer que fumar é provavelmente a segunda coisa mais estúpida do mundo! Mas não me apetece viver sem vícios, não acho piada a viver sem cometer erros, até porque a nossa maior virtude são os nossos defeitos, porque são estes e não aquelas que nos tornam seres absolutamente únicos e irrepetíveis!
Mas o culto da asneira e do disparate, não deve confundir-se com a evocação da insanidade, com a defesa de uma vida de irresponsáveis absurdos!
Da mesma maneira que sou acérrimo defensor do Direito ao Disparate, sou intransigente a combater aquilo que chamo as grandes asneiras da vida, aqueles trágicos momentos que irremediavelmente nos mudam para sempre, mormente, os crimes rodoviários que aumentam nesta época que dizem ser de esperança e de paz!
No ano passado, entre outras coisas, perdi uma aluna, Cleide de seu nome, num absurdo acidente rodoviário. A Cleide não é apenas mais um número numa triste estatística, mas uma jovem inteligente e cheia de vida, com família e amigos, com um futuro que seria brilhante, uma pessoa, não apenas mais um mero número, que perdeu a vida num estúpido acidente que, como quase todos os outros, podia ter sido evitado.
Não faço ideia de quais os vícios dos ouvintes nem onde nem como vão passar as suas Festas: o meu desejo é apenas que vá e regresse em segurança, preferencialmente trazendo consigo um sorriso…

4 comentários:

  1. Anónimo00:16

    Adorei o que escreveu! esta simplesmente lindo!***

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  2. Belo texto, do melhor que já escreveste, tirando, claro, o fumo...;)

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  3. Anónimo16:27

    Lindo texto. Voltou a fazer-me chorar, prof!
    Bom Natal. E mais sorrisos para o ano!

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  4. Anónimo23:32

    Lindo! A tua escrita arrepia!

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!