Estou convencido que o pior filme da história do cinema é Quero ser John Malkovich: recordo a minha adolescência, quando vi filmes pornográficos com uma história bem mais inteligente, com muito mais conteúdo. Mas recupero o filme, por me apetece baptizar esta crónica de Eu não quero ser o Passos Coelho – e não digo isto apenas porque a minha pila por certo que é maior que a dele-.
Passos Coelho sabe que vai ser Primeiro Ministro, pelo que não tem o luxo de Jerónimo de Sousa Louça, que podem deliciar-se no mar da demagogia irresponsável, cientes de que podem dizer tudo porquanto nunca vão ter a responsabilidade de decidir; porque Passos Coelho não tem o luxo de Portas, que está condenado a ser irresponsável, com receio que se repita o efeito Cavaco Silva e que o novo PSD reponha o CDS dentro do táxi. Não invejo Passos Coelho: porque Passos Coelho sabe bem que o pacote do Sócrates não presta, mas não pode ignorar que chumbar o orçamento tem consequências impensáveis, porque um Pais à deriva não aguenta um ano sem Governo, ano e meio sem orçamento! Porque quando um barco está perdido no oceano, é preferível um mau capitão do que ficar desorientado porque o capitão se atirou ao mar.
Mas se Passos Coelho não perdeu a lucidez, se não ouviu as vozes dos que clamam por mandar Sócrates para a fogueira e abrir as portas ao FMI, percebe que este pacote tem várias medidas más e outras que são péssimas: que este é um PEC que nos faz recordar o velho apólogo que ao sentir uma rabanada de vento invadir-lhe o escritório espalhando os papeis, procura desesperadamente pesos para segurar as folhas, sem ter a lucidez de ir fechar a janela.
Quando Sócrates escolheu exibir o pacote num momento em que a Constituição proíbe eleições, encostou Passos Coelho à parede, deixando-o coagido a escolher entre viabilizar ou viabilizar o orçamento!
Fico feliz por não ser Passos Coelho! Porque se o fosse, seria tentado a escolher uma saída no beco! viabilizar este orçamento com algumas alterações, admitir a possibilidade de ser parte num Governo de salvação nacional, com uma única e singela condição! Um Governo PS, sem que o PM fosse Sócrates! Porque já ninguém acredita que Sócrates consiga levar o barco a bom porto! E a credibilidade é como a virgindade: só se perde uma vez e quando se perde é irrecuperável!
Adenda: Participei na Iniciativa do PSD em que questiona a sociedade civil sobre como poupar no despesismo público: salvo erro, defendi fim dos Governadores Civis, diminuição do número de administradores nas "empresas públicas" lato sensu e corte de 10% em todos os gabinetes!
Eu também não quero ser como o Passos Coelho..
ResponderEliminarPassos Coelho, é talvez de todos os líderes do PSD, o pior deles todos. É verdade que se esperou muito dele, não sei bem se é por ser bonito ou lá o que é que tem efeito nas mulheres e nos paneleiros, mas que se esperou muito dele, esperou-se. Até Sócrates desejou que tal acontece-se, o que implicaria não só uma oposição com alguma qualidade, como também, acabaria de vez com os ataques de carácter ao PM na falta de propostas. Mas acabou por enganar não só Sócrates como a todos nós. Não sei se é por eu ter o esquerdo mais descaído que o direito, mas nunca tinha visto ninguém que desse tantos tiros nos pés em tão pouco tempo. Da asinina cassete da verdade que volta ao baile, passando pela patética recolha de louros por se ter dado as mãos aos portugueses em caso de necessidade (vê-se agora a ajuda que deu!), até à declaração de impotência para derrubar o Governo e ter, portanto, de esperar que o PS decida quando vai a eleições. Também não é muito difícil perceber que são muito poucos os assuntos que não trás decorado. Decora, mas não os sabe explicar.
É um papel ingrato. Aliás, creio que nenhum português gostaria de governar nos nossos dias. Tal como nenhum empresário pegaria numa empresa à beira da falência.
ResponderEliminarPior papel é quando ele próprio sabe que não tem perfil para ser uma alternativa. Tal como Sócrates sabe perfeitamente que também não tem perfil para o cargo que ocupa. Os únicos que não o sabem, são os 10 milhões de cidadãos que são obrigados a escolher entre um e outro. É perverso, mas é a realidade dos últimos 35 anos.
E ainda pior é o papel de cidadão. O que paga e desconta para toda a santa casinha com o selo Estado colado na testa, e desse sacrifício não tira nenhum dividendo, apenas recebe incompetência e/ou negligência como retorno. O que alimenta toda a tal máquina gorda e anafada que falei noutro comentário aqui no seu blog, e que com cada PEC que sai cá para fora lhe é passado um atestado de estupidez por gente sem ponta de escrúpulos. E o que é que o cidadão consegue fazer, com tantas amarras que lhe são impostas, vindo de todos os quadrantes (políticos, legais, e económicos)? Apenas suspirar e dizer o típico e tão português "Enfim..."