Se Portugal fosse mesmo um País...

Felizmente que temos a saudável mania de nos distrairmos com os penaltys não marcados ao Benfica, a cuscar as conversas privadas dos outros, entretidos em dar mais dinheiro ao Jardim, ou nessa questão realmente importante e fracturante na sociedade portuguesa, num tema que nos afasta e divide, que nos apaixona pela sua pertinência pertinente, ou seja, descobrir quem é que vai ganhar os Ídolos!

Porque se assim não fosse, se Portugal fosse um País a sério, a nação teria passado a semana passada a reflectir e, esta semana, o PM e o PR, acompanhados pela oposição responsável, teriam feito um discurso à Nação! Um discurso sério e honesto sobre a situação pantanosa da nossa economia e contas públicas e a aplicação imediata de um conjunto de medidas para combater a crise! Nomeadamente:

- suspensão imediata de obras faraónicas, feitas através de endividamento externo e pelo recurso a matérias primas importadas;

- redução em 10% dos salários dos titulares de cargos públicos, bem como dos gestores nomeados para todas as empresas publicas e municipais, incluindo obviamente as sociedades anónimas de capitais maioritariamente públicos;

- redução em 10% do número de assessores e consultores do Estado;

- reduzir em 25% os obscenos valores pagos em consultadoria, nomeadamente, a escritórios de advogados, de engenharia, arquitectura e afins;

- combate sério à evasão fiscal, que não pode continuar a confundir-se com perseguição a quem não paga atempadamente os seus impostos; se neste campo, algo de relevante se fez nos últimos anos, importa agora moralizar aqueles que sistematicamente não declaram valores ao Fisco, fugindo ao pagamento dos impostos;

- renegociação de todas as parcerias publico-privadas: desde há anos e anos que o Estado está obcecado em negociar com prejuízo próprio;

- revisão das regras fiscais aplicáveis à Banca, bem como da generalidade dos benefícios fiscais;

- redução excepcional e transitória, em 5% dos salários dos funcionários públicos com vencimento superior a 1000 Euros;

- redução excepcional e transitória, em 10% de todas as reformas superiores a 3000 Euros;

- suspensão parcial do subsídio de Natal!

Não tenho ilusões: adoptar estas medidas faria a ruína do Primeiro-ministro, que, no futuro, nem para a Associação de Condóminos seria eleito! Mas estas medidas ou outras muito semelhantes, são infelizmente necessárias e cruciais. E o adequado seria que fossem espontaneamente assumidas pelos Governantes Portugueses! E estes podiam fazê-lo: mas não era a mesma coisa! Tem muito mais charme ficar sentadinhos a assobiar para o lado, tranquilamente à espera que o FMI ou a UEuropeia coloquem ordem na nossa casa!