Desculpem chamar a esta crónica a velha que esteve oito anos morta em casa; bem sei, que na era do politicamente correto, é aceitável deixar morrer uma velha em casa, deixá-la ficar por lá quase uma década, mostrar profundo desrespeito pelos seus vizinhos e familiares, mas, é inaceitável chamar velho a um velho! Porque nesta nova sociedade egoísta em que vivemos, podemos abandonar os velhos meses e meses nos lares, desde que, não se chame velhos aos velhos, nem lares ou lares!
Hoje os velhos têm pensões! Alguns deles, pasme-se, até têm uma pensão que lhes dá para os medicamentos e para a comida! E – ouvi dizer – alguns até lhes sobra dinheiro para os filhos e netos roubarem! Por mais que loucos gritem o contrário, Portugal tem hoje um belíssimo sistema nacional de saúde que, mesmo com tantas falhas, imperfeições e despesismo, é uma das poucas razões de orgulho do nosso estado ainda social!
Os lares onde mandamos os nossos velhos morrer – porque nos lares os velhos morrem no meio dos outros velhos, longe de nós – hoje têm regulamentos fantásticos: os quartos têm dimensões quase perfeitas, têm enfermeiras, médicos, assistentes sociais, psicólogos e outros especialistas, que, quando olhamos alguns folhetos, ficamos mortinhos para ser velhos! Obviamente que a maioria dos lares, lindos no papel, são monstros desumanos e frios, mas, se a ideia é despejar os velhos até que morram, será absurdo pensar em luxos!
A história da velha que esteve morta oito anos em casa não se conta numa crónica com menos de 400 palavras: até porque esta história, contrariamente ao que tanto se romanceou, não é uma história de uma velha que a sociedade esqueceu! Esta é uma história de um primo que foi treze vezes ao Tribunal reclamar de que a velha estava morta em casa, de uma vizinha que foi fazer queixa na polícia! Mas infelizmente a vizinha e o primo eram velhos! E os velhos aborrecem os tribunais e as policias! E porque eram velhos nada foi feito! Porque.. os velhos mortos cheiram mal!
voce tem momentos excepcionais! Grande crónica!
ResponderEliminarPois cá para mim, há uns que ainda não estão mortos mas já cheiram tão mal!!!! Principalmente quando abre a boca.
ResponderEliminarO que me mais me preocupa agora são os " velhotes " vivos e que estão imensos em casa solitários, sem laços familiares e de amizades próximas, para além de vizinhança conhecida.
ResponderEliminarSerá que não se pode criar uma linha verde de contacto para periodicamente estes portugueses serem contactados e de lhe dê uma ou duas palavras, para vereficar se se mantêm vivos, através dos serviços da Segurança Social ?
Sem dúvida, excelente reflexão! Ao que chegamos, pessoas a morrerem sozinhas nas suas casas, idosos completamente ao abandono, porque de facto para alguns ser velho é um peso( As pessoas esquecem-se é que todos envelhecemos um dia, e o tal idoso abandonado, solitário, que é um peso para a sua família, poderá ser um de nós. Deveriam ser criadas sinergias locais, que apoiem esta faixa da população!
ResponderEliminarAQ
@anónimo 00.28 - Se os seus amigos lhe dizem isso, experimente lavar os dentes!
ResponderEliminarM
Gostaria de realçar que, se bem notaram, o episódio não aconteceu em Beja (no sentido amplo); é verdade!
ResponderEliminarSe o Baixo Alentejo é a região do país que tem um índice de envelhecimento mais elevado, verdade é que os "nossos" séniores (como eu gosto de lhes chamar)são tratados de melhor forma do que em muitas outras regiões. Há ainda muito a fazer? Sim. Há aspectos a melhorar ? Sim, muito. Mas, o que é certo, é que nesta região os séniores são acarinhados e têm a possibilidade de disfrutar desta etapa das suas vidas numa cidade com sol, com um clima agradável, ainda segura, com espaços para caminhar. E...verdade seja dita, ninguém lhes ganha em sentido de humor!
H: pq é que "enfermeiras", no feminino, e "médicos" e "psicólogos", no masculino ?
ResponderEliminarPearl - pela mesma razão que para mim só há hospedeiras e empregadas na caixa do modelo! :D
ResponderEliminarah....ok, ainda bem que o aeroporto só vai trazer pilotos :)
ResponderEliminarOh Jóia, eu também estou mortinha há tempo, não sou velha, não cheiro mal, e também ninguém quer saber!!
ResponderEliminarAnónima.
@anónima - eu acho que gozar com a morte de alguém é do mais baixo e desprezível que há na vida! Mas.. deve ser defeito meu!
ResponderEliminar@H : Eu não estava a gozar. Só estava a chamar a atenção para a indiferença que há para com as dificuldades dos outros, ao ponto de chegar o que está no post. Não fique já todo almariado!
ResponderEliminar@anónima - eu tenho apenas fome! Almariado, raramente fico!
ResponderEliminarCumps!
Já dizia a minha avó "um homem com fome é um homem perigoso"...
ResponderEliminarAnónima. cumps.
Este anos em vez da contagem dos "casos" da gripe não sei quê vamos contar o nº de pessoas que murreram sozinhas em casa? haja paciencia.
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