Foi uma agradabilíssima surpresa a dimensão da Manifestação de sábado! Confesso que o número esmagador me surpreendeu! E urge reconhecer que é uma excecional notícia: uma geração tantas vezes amorfa, tantas vezes alheia de tudo, tantas vezes desinteressada, unir-se e vir para a rua lutar é algo que deve ser efusivamente aplaudido! É a prova provada que ainda há por aí quem sonhe por uma sociedade melhor!
Dito isto, não vou escamotear as evidências: milhares das pessoas que foram manifestar-se não faziam a menor ideia a razão porque lá estavam, muitos dos que foram tinham visões antagónicas e outros tantos foram apenas porque é giro ir a estas coisas! Mas isso não nos deve desviar do pertinente: milhares e milhares de jovens de todas as idades, saíram à rua, de forma ordeira, para gritar que exigem mais do seu País!
Mas o problema é que não basta gritar e dizer que queremos algo diferente! Porque fazer diagnósticos é obscenamente simples. O que urge é apontar soluções. Escolher caminhos! Traçar alternativas! E nesta perspectiva, a manifestação foi um fracasso! Porque não ficou uma ideia, uma proposta, uma solução, um caminho!
Há muito que escrevi e que estou convicto que José Sócrates hoje é parte do problema e não da solução! Que o seu tempo se esgotou! Que perdeu energia e é incapaz de dar aos portugueses aquilo que agora mais precisam: esperança!
Mas só os tolos e os demagogos acreditam que com a saída de Sócrates as coisas mudam! Porque o problema do País é muito mais grave que um mau governo! Porque a nossa crise tem séculos! E porque não é com mudanças de governo para tudo ficar na mesma que invertemos o nosso trágico fado!
Mais do que nunca, os portugueses precisam de ouvir a verdade! Que é dura! Porque na nossa frente apenas há dificuldades! Mais do que nunca o país precisa de gente séria, com coragem para atacar as ilegalidades e construir um verdadeiro estado de Direito! Um governo forte, que tem obviamente de ter maioria absoluta! E espírito reformador! Mas verdadeiro: sem as patetices dos demagogos que falam de soluções fáceis, tão boas e extraordinárias, que não existem em nenhuma democracia do mundo!
Bela posta!
ResponderEliminarVoce estar perdido em Beja a dar aulas num Politécnico é um desperdicio! Mais uma excelente reflexão!
ResponderEliminar"Fórum das Gerações - 12/3 e o Futuro"
ResponderEliminarEm manifestações de centenas de milhares de pessoas existem sempre seres que no meio da multidão, não sabem o porquê, e os ' média ' alimentam-se em dezenas de entrevistas de 5 ou seis com esse significado, e é essa a imagem televisiva que os editores passam e repetem.
ResponderEliminarTenho e sempre tive pensamentos de esquerda e não mudarei, mas admito que o país só arrebitará e verá a luz ao fundo do túnel com um governo de coligação de bloco central, tenho que admiti-lo !
Um rapaz da minha idade (licenciado há 3 anos e desde que saiu da escolinha não trabalha e está em casa dos pais, à espera que alguém se lembre dele), numa conversa de café dizia-me: "A Manif foi um sucesso. Também tou desempregado, não arranjo trabalho. Atão e tu não foste?". Respondi: "Trabalho e tenho um part-time. Ainda gostava de arranjar outro. Não sou da geração à rasca, sou da geração desenrascada".
ResponderEliminarAnónimo das 00:48
ResponderEliminarO Instituto Politécnico de Beja é um local de Ensino com qualidade...o problema deste país está nos corruptos e incompetentes que saem das Faculdades de Lisboa e afins...
Grande Abraço professor, é por este comentários que vale a pela lutar por uma cidade como BEJA.
JC
Depois de ter lido o desabafo de um Deolindo, confesso que fiquei perplexo com a inflexão face à dimensão da manif de dia 12.
ResponderEliminarCusta-me a crer alguém tenha especial gosto por permanecer em casa dos pais. Se o nível médio de poder de compra de um jovem empregado fosse satisfatório (entenda-se, ao nível de alguns países da UE), prefeririam ter o seu espaço, com a consequente “liberdade”, até porque o que não faltam são restaurantes, take-aways, engomadeiras ou serviços de limpeza. Houvesse capacidade económica para suportar estes serviços…
Mas também me custa ver que uma geração não-tão-jovem se refira aos jovens de hoje em dia com se de uma raça auto-concebida se tratasse! Então eles não são o reflexo das gerações predecessoras, que os criaram e educaram ?
Concordo que a manif foi um fracasso. Só que não pela falta de soluções. Como se pode exigir a quem só agora se começa a tornar um adulto, consciente, que apresente soluções quando as gerações não-tão-jovens não o conseguem fazer ?
E foi um fracasso por 2 razões: em 1º, porque um nº. considerável dos manifestantes não eram propriamente jovens e em 2º, porque acho quase hipócrita que se venha para a rua reclamar quando a taxa de abstenção nas últimas Presidenciais foi de 50%!
Ainda hoje, um amigo me chamou a atenção para o novo movimento do Facebook: 1 milhão para despedir o Governo. Em poucos dias reuniram mais de 200 mil “gosto”. Mas onde é que pára esta gente quando pode ter uma palavra efectiva a dizer sobre em quem deposita a sua confiança para gerir e representar o seu Estado, o seu País ?
Há uma crise, efectivamente. Para além da económico-financeira. Com várias cambiantes. A do comodismo. É que é mais cómodo clicar numa tecla do computador…
A da vaidade. “A SIC e a TVI vão lá estar ? ‘Bora lá!”
Uma, não menos grave, é, como afirmaste, a da atribuição de culpas a tudo e todos. A Sócrates, ao Governo, aos Sindicatos, ao vizinho do lado. É mais agradável ficar a mandar umas bocas numa esplanada, entremeando com umas bejecas, do que assumir uma postura, uma atitude. Liberta-se a bílis a volta-se para casa. E há uma grande variedade de “esplanadas”…
Ainda bem que, no meio daquela algazarra, existiram muitas posturas e visões. Antagónicas, pois concerteza. E ainda bem! A mim preocupa-me mais quando reina uma agonizante normalização das opiniões.
Mais do que uma manifestação de descontentamento, o que me deixa seriamente preocupado é o facto de que, realmente, não há ainda uma noção clara por parte da sociedade da verdadeira causa das coisas. Mas há uma noção quase instintiva de que algo está profundamente errado. E não é só em Portugal.
Os tempos que vivemos são, de longe, mais complexos e nebulosos do que o eram há 20, 30 ou 40 anos atrás. Por isso, é responsabilidade de quem é mais esclarecido, lutar. Lutar pelos outros, acordar consciências, explicar-lhes o que não entendem. Fazer, demonstrando pelo exemplo. E assumir, também, a sua quota-parte de culpa. Um Presidente, um Governo, um Executivo Camarário é e será sempre um reflexo da sociedade. Se o Estado chegou ao estado em que estamos, então a culpa é de todos, com as devidas e (poucas) honrosas excepções.
Custa-me um pouco atirar com uma parte das culpas aos jovens. Senão, vejamos: um jovem licenciado, “exótico” ou não, à procura do seu 1º emprego, terá cerca de 20 e tal anos mas, muito provavelmente, quando ingressou no Ensino Superior, teria 18-20 anos. Um projecto de adulto. Será que a responsabilidade de ter tirado a “tal” licenciatura, que o colocará indefinidamente na fila do Instituto de Emprego, é dele, ou será que a grande culpa é das Instituições de Ensino Superior que as criam, que as publicitam como um “Curso do Futuro”, mas que continuam a não divulgar, como até é obrigatório por lei, as respectivas taxas de empregabilidade ? E será que os professores que leccionam cadeiras nesses cursos, muitos conscientes da realidade, não são, também eles responsáveis ?...
Os jovens protestaram. Ainda não têm é noção a quem atribuir as responsabilidades efectivas…
Hugo Rego
Hugo, não há nenhuma inflexão! Esta é a posta 1, de outros que se vão seguir! Como, não gosto de generalizações, pelo que, é prefiro não colocar todos no mesmo saco!
ResponderEliminarDuas breves notas:
1ª - no Norte e Centro da Europa os Deolindos de vinte anos querem morar fora da casa dos pais e vão dividir casa com amigos! Em Portugal os jovens acham prioritário ter automóvel próprio, festivais de Verão e férias! Muito antes da crise, já os latinos demoravam a sair de casa dos papás!
2º - e esta uma divergência de fundo - vou combater sempre que se culpem as Universidades pelo desemprego dos seus licenciados ou os bancos por as pessoas pedirem empréstimos ou as lojas por as pessoas gastarem demasiado! Liberdade para mim será sempre responsabilidade: e se aos 18 falta alguma capacidade para escolher bem, compete aos pais e outros educadores ajudar os jovens a escolher melhor! Não vamos passar o tempo a culpar os outros!
É verdade e, curiosamente, também são os tais países onde os rendimentos médios o permitem. E se por cá muitos acham prioritário ter automóvel próprio, em grande medida também se deverá ao facto da rede de transportes pública portuguesa ser das mais ineficazes e ineficientes da Europa para além de que a crescente desregulamentação e precarização do trabalho obrigar a uma grande mobilidade, realidade à qual os transportes públicos se encontram distanciados.
ResponderEliminarÉ claro que já antes da crise, os jovens tinham alguma dificuldade em sair da casa dos papás. Se o rendimento médio é hoje o que é, há 10 ou 20 anos atrás era o que era. E para isto também contribui uma herança de subsistência familiar fruto de tempos assim não tão distantes. E, muitas vezes, são os próprios pais que a isso incentivam.
Agora, quanto às Instituições de Ensino Superior, ou até as Instituições Financeiras, é claro que as culpo na exacta medida da sua responsabilidade.
Começando pelas últimas, então elas não são responsáveis pelo aliciamento ao crédito ? Então elas não tinham fórmulas de cálculo no que toca aos limites de endividamento e sucessivamente enfiaram-nas na gaveta ? Então elas não aliciaram aforradores a investir em produtos financeiros derivados, fazendo crer numa segurança de retorno desajustada da realidade ? Ou aliciando ao investimento imobiliário porque “é um investimento que valoriza sempre” à pala de um ciclo de juros baixos que sabiam, de antemão, ser algo cíclico ? Não têm a sua parte na responsabilidade ?
E as Instituições de Ensino ? Será que os seus responsáveis vivem nalgum país que não Portugal ? Desconhecem a realidade, independentemente de estarem a contribuir para a mesma ? E não são responsáveis quando criam e publicitam cursos com baixa taxa de empregabilidade ? Não são responsáveis quando não divulgam essa mesma taxa ? Aliás, afinal, porque é que foi criada essa obrigatoriedade ? Não foi com a intenção de permitir escolher o curso de forma responsável e realista ? Qual é a percentagem de instituições que o faz para todos os cursos que oferece ?
E essas mesmas Instituições financiadas directa e/ou indirectamente pelo erário público não têm responsabilidades perante o despesismo decorrente de formar pessoas muito acima das necessidades do país ? Curiosamente, apesar da realidade, ainda não vi nenhum responsável de nenhuma dessas instituições defender o encerramento de cursos. Pelo menos, não os que as suas própias instituições ministram. Mas já vi muitos rebelarem-se contra!
Porquê ? Afinal, quais são e quais devem ser as funções e responsabilidades dessas mesmas instituições ? Querem-se resumir a meros vendedores de formação ? Por mim, tudo bem. Desde que não seja à custa do cidadão-contribuinte!
É que, mal comparado, segundo essa lógica, então vamos descriminalizar os vendedores de droga. A culpa não é deles! A culpa é de quem produz a droga. E de quem a consome. Sobretudo deste último. Devia ter mais juízo…
Não estou a afirmar, com isto, que a culpa é só de uns ou de outros. É evidente que cada um dos interlocutores tem a sua quota-parte de responsabilidade. Mas todos têm.
Pergunta: se uma Instituição de Ensino Superior sabe que o curso x tem uma taxa de empregabilidade demasiado baixa no médio prazo, porque razão insiste em continuar a oferecer tal curso? Se não serve os interesses do país, porque este não tem necessidade de tais licenciados, se não serve os interesses dos licenciados porque estes não irão encontrar emprego na sua área de formação, se não serve os interesses do cidadão comum, porque é ele que, através dos seus impostos, o financia, afinal, serve os interesses de quem ?
Responsabilidade ? Isso é para os outros…
Hugo Rego
Hugo, Percebo perfeitamente a sua opinião, mas não o consigo subscrever! No caso do Ensino, porque vou combater sempre sistemas de planeamento! No caso do carro, porque, acho que esta paixão pelos ditos, está no ADN dos latinos e, mesmo onde os transportes públicos sao decentes, somos obcecados com o carro!
ResponderEliminarMas.. prometo desenvolver estes raciocínios num post para incrementar o debate!
Volte sempre.. porque faz falta aqui!
Hugo, agradeço as suas palavras.
ResponderEliminarNo caso do Ensino, aceito perfeitamente a sua posição embora confesso que não tenho percebido em que medida a existência ou não de sistemas de planeamento possam ser um argumento válido para a desresponsabilização perante o Estado e a sociedade.
Teria gostado de saber qual a sua posição perante as questões, tendo em conta sêr um conhecido legalista da região, por exemplo, sobre o incumprimento da lei no que toca à divulgação das taxas de empregabilidade ou, sobre a "serve os interesses de quem ?" mas creio que ficará para uma outra oportunidade.
Abraço e boas aulas :-)
Hugo Rego
Hugo (você tem um nome realmente bonito :D)
ResponderEliminarobviamente que critico! Porque as taxas devem ser publicadas, de forma a permitir que os jovens (e as familias) façam uma escolha consciente!
Ps - gostou da parte 2?!
É um nome fantástico, sem dúvida :-)
ResponderEliminarClaro que a análise dos problemas estruturais ao nível do Ensino Superior merecem uma discussão mais profunda.
Fico então à espera dessa oportunidade.
E de vêr publicadas as taxas de empregabilidade dos cursos do IPB...
Gostei muito da 2ª posta.
Hugo Rego