sexta-feira, agosto 03, 2007

Foi Assim, diz a Zita...

Confesso que nao aprecio especialmente a personagem. Nao apreciava ate 89, nem fiquei embevecido com a mesma na decada de noventa.
Mas, por estes dias, li o livrito de Zita Seabra sobre o Partido Comunista Portugues. Apesar de nao estar muito bem escrito, repetitivo de quando em quando, e um excelente documento sobre a historia recente, sobre aquilo que foi e continua a ser o PCP, aquilo que Portugal quase foi!
Recomendo... especialmente aos Camaradas...

3 comentários:

  1. Eu li e será tema de uma crónica.
    É que há quem queira crucificar a senhora por não ter passado pelo purgatório chamado Partido Socialista, tendo ido directamente para o céu (PSD)!

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  2. Até estou surpreendido por ver como é que os camaradas não embargaram a venda do livro em Beja...

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  3. ""O lançamento da obra decorreu, com um evidente simbolismo, no Quartel do Carmo, com a presença de importantes personalidades, entre outras, Mário Soares e Maria Barroso, J. Pacheco Pereira, Carlos Gaspar, Marques Mendes, César das Neves, Vasco G. Moura, Bagão Félix e Santana Lopes. Teceram-se os maiores encómios à obra (Público, 6 de Julho). Que é um livro de uma verdade absoluta e transparente, diz Mário Soares. Que nas memórias da amiga «não há uma gota de culpa», diz Pacheco Pereira, em relação à «instituição», para não soletrar «PCP». Gaspar, pelo seu lado, fala que «a menina romântica com péssimas leituras» ( Marx, Lenine, Engels e outros autores subversivos, proibidos pelo fascismo?) conta no livro «a história de uma ruptura, tanto mais dura e brutal, por ser solitária», destacando «a coragem como fio condutor da obra».

    E ela, Zita, rodeada de ilustres, com os pés enfiados nuns bonitos sapatos vermelhos, relíquia colorida da anterior encarnação, agradece a todos e apenas lamenta, em patético acto de contrição, o sofrimento que deu aos seus pais, desventura do seu inconsequente roteiro comunista. Regressada à classe burguesa de origem, convertida em professa anticomunista, está à vontade entre os seus.

    Por sua vez, Vasco Pulido Valente, o conselheiro redactorial e revisor de provas, presente espiritualmente, oferece na contracapa, «à sempre cândida» Zita Seabra, o seguinte laudo lapidar: «É o livro que faltava para perceber a grande tragédia do comunismo português».

    Dizemos nós, em contraponto, desde já: a afronta odiosa que «Foi Assim» transporta contra o Partido Comunista, é de tal monta que os antigos inquilinos do Carmo, depostos no 25 de Abril, teriam gostado muitíssimo, se ainda cá estivessem, de marcar o evento com a sua presença!

    O mínimo que se poderá dizer de Zita Seabra é que é uma personalidade contraditória. Onde está a verdade da pessoa, o seu valor real, cara ou coroa? No período de 22 anos em que assume uma militância comunista, desde a adolescência sacrificada até aos 39 anos de idade, dirigente ainda do PCP? Ou na pessoa que vai nascer em 1989, e diz a si própria e aos outros, como uma revelação: «não sou comunista». A sua cotação real estará no valor facial ou no valor da troca, ao afirmar-se como anticomunista, como dirigente política de direita? «Foi assim» é, contra as aparências de um depoimento realista, um texto basicamente de ficção: a narradora conta o seu passado para o reinventar, desacreditando-o. É uma caricatura grotesca e anedótica da clandestinidade como clausura contrariada, a deturpação política intencional da vida partidária e do papel do PCP na Revolução de Abril, etc.. Filhas e genros, diz Zita nos «Agradecimentos», «foram ouvindo (estas) histórias e rindo delas»… Eis a seriedade postiça exibida num descuido. O maior erro na apreciação que se poderia fazer do livro de Zita é considerá-lo o testemunho objectivo da sua vida no Partido Comunista, ou o acto sincero de uma ajuste de contas com o passado, ou a narrativa factual de acontecimentos políticos em que participou, ou o ajuizar isento sobre pessoas com quem partilhou a militância comunista. Nada de mais falso. Logicamente, é o que tentam os seus amigos políticos, ao elogiar a peça e a personalidade…

    O sujeito narrador do texto aparece numa entremeada confusa de enunciados em que alterna o sintagma nominal «nós comunistas» com o verdadeiro «eu» da pessoa, o qual se distancia, contraria, deturpa e renega a anterior ideologia e fidelidade. A primeira personagem, a Zita que milita no Partido, objecto da novela, está morta há quase vinte anos; a segunda, a Zita do PSD, verdadeira narradora, está bem viva e activa, posicionada no jet set da classe política, utilizando o know how do seu passado de militante de esquerda para agir como militante da direita. A reconversão passa pela ideologia e pela orientação política, mas a técnica é transferível com adaptações. O maior mérito de um dissidente é continuar a valer longamente como dissidente: o valor real como valor da troca. Há uma carreira de dissidente a título póstumo, como troféu, como exemplo para outros, como sinal que visa enfraquecer o adversário. Os antigos inimigos que acolhem o dissidente exibem-no como o bom exemplo a seguir, o representante da sensatez, do que deve ser: a moralidade pedagógica do regresso de um filho pródigo, a ovelha tresmalhada que volta ao redil, a conversão de uma infiel.

    «Foi assim» é um texto de confronto político actualizado, um instrumento de propaganda contra o PCP e a ideologia comunista, um meio de alicerçar a sua carreira de militante da direita, de reforçar o seu prestígio no meio em que se situa. A autora age como inimiga do Partido, num posto ficcionalmente interior ao Partido, utilizando factos vividos e argumentos, num estilo que parece ser genuíno e natural, mas que é deliberadamente o do confronto politizado. Fim estratégico: desvalorizar, estigmatizar, ridicularizar e denegrir o PCP. Táctica: denunciar, expor pormenores, deturpar, caricaturar, montar cenários, desinformar, difamar, mentir. Principal ingrediente: a pessoa, a figura da arrependida, a pecadora que se confessa, servida por uma claque burguesa.
    A autora está consciente deste truque e tenta controlar a informação. Quando a jornalista Fernanda Câncio (DN, 8/07/07), que a critica por assumir no presente a luta contra causas que eram suas, como o aborto, lhe faz a última pergunta, («Nos agradecimentos do livro está um monsenhor, o mote é uma frase bíblica, apesar de se dizer ateia de formação. Descobriu Deus, entretanto?»), a resposta é espantosa: «Sobre a minha vida depois de 1989 não quero falar».""

    José Manuel Jara

    Fiquem bem, hst.

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