Confesso que nao aprecio especialmente a personagem. Nao apreciava ate 89, nem fiquei embevecido com a mesma na decada de noventa.
Mas, por estes dias, li o livrito de Zita Seabra sobre o Partido Comunista Portugues. Apesar de nao estar muito bem escrito, repetitivo de quando em quando, e um excelente documento sobre a historia recente, sobre aquilo que foi e continua a ser o PCP, aquilo que Portugal quase foi!
Recomendo... especialmente aos Camaradas...
Eu li e será tema de uma crónica.
ResponderEliminarÉ que há quem queira crucificar a senhora por não ter passado pelo purgatório chamado Partido Socialista, tendo ido directamente para o céu (PSD)!
Até estou surpreendido por ver como é que os camaradas não embargaram a venda do livro em Beja...
ResponderEliminar""O lançamento da obra decorreu, com um evidente simbolismo, no Quartel do Carmo, com a presença de importantes personalidades, entre outras, Mário Soares e Maria Barroso, J. Pacheco Pereira, Carlos Gaspar, Marques Mendes, César das Neves, Vasco G. Moura, Bagão Félix e Santana Lopes. Teceram-se os maiores encómios à obra (Público, 6 de Julho). Que é um livro de uma verdade absoluta e transparente, diz Mário Soares. Que nas memórias da amiga «não há uma gota de culpa», diz Pacheco Pereira, em relação à «instituição», para não soletrar «PCP». Gaspar, pelo seu lado, fala que «a menina romântica com péssimas leituras» ( Marx, Lenine, Engels e outros autores subversivos, proibidos pelo fascismo?) conta no livro «a história de uma ruptura, tanto mais dura e brutal, por ser solitária», destacando «a coragem como fio condutor da obra».
ResponderEliminarE ela, Zita, rodeada de ilustres, com os pés enfiados nuns bonitos sapatos vermelhos, relíquia colorida da anterior encarnação, agradece a todos e apenas lamenta, em patético acto de contrição, o sofrimento que deu aos seus pais, desventura do seu inconsequente roteiro comunista. Regressada à classe burguesa de origem, convertida em professa anticomunista, está à vontade entre os seus.
Por sua vez, Vasco Pulido Valente, o conselheiro redactorial e revisor de provas, presente espiritualmente, oferece na contracapa, «à sempre cândida» Zita Seabra, o seguinte laudo lapidar: «É o livro que faltava para perceber a grande tragédia do comunismo português».
Dizemos nós, em contraponto, desde já: a afronta odiosa que «Foi Assim» transporta contra o Partido Comunista, é de tal monta que os antigos inquilinos do Carmo, depostos no 25 de Abril, teriam gostado muitíssimo, se ainda cá estivessem, de marcar o evento com a sua presença!
O mínimo que se poderá dizer de Zita Seabra é que é uma personalidade contraditória. Onde está a verdade da pessoa, o seu valor real, cara ou coroa? No período de 22 anos em que assume uma militância comunista, desde a adolescência sacrificada até aos 39 anos de idade, dirigente ainda do PCP? Ou na pessoa que vai nascer em 1989, e diz a si própria e aos outros, como uma revelação: «não sou comunista». A sua cotação real estará no valor facial ou no valor da troca, ao afirmar-se como anticomunista, como dirigente política de direita? «Foi assim» é, contra as aparências de um depoimento realista, um texto basicamente de ficção: a narradora conta o seu passado para o reinventar, desacreditando-o. É uma caricatura grotesca e anedótica da clandestinidade como clausura contrariada, a deturpação política intencional da vida partidária e do papel do PCP na Revolução de Abril, etc.. Filhas e genros, diz Zita nos «Agradecimentos», «foram ouvindo (estas) histórias e rindo delas»… Eis a seriedade postiça exibida num descuido. O maior erro na apreciação que se poderia fazer do livro de Zita é considerá-lo o testemunho objectivo da sua vida no Partido Comunista, ou o acto sincero de uma ajuste de contas com o passado, ou a narrativa factual de acontecimentos políticos em que participou, ou o ajuizar isento sobre pessoas com quem partilhou a militância comunista. Nada de mais falso. Logicamente, é o que tentam os seus amigos políticos, ao elogiar a peça e a personalidade…
O sujeito narrador do texto aparece numa entremeada confusa de enunciados em que alterna o sintagma nominal «nós comunistas» com o verdadeiro «eu» da pessoa, o qual se distancia, contraria, deturpa e renega a anterior ideologia e fidelidade. A primeira personagem, a Zita que milita no Partido, objecto da novela, está morta há quase vinte anos; a segunda, a Zita do PSD, verdadeira narradora, está bem viva e activa, posicionada no jet set da classe política, utilizando o know how do seu passado de militante de esquerda para agir como militante da direita. A reconversão passa pela ideologia e pela orientação política, mas a técnica é transferível com adaptações. O maior mérito de um dissidente é continuar a valer longamente como dissidente: o valor real como valor da troca. Há uma carreira de dissidente a título póstumo, como troféu, como exemplo para outros, como sinal que visa enfraquecer o adversário. Os antigos inimigos que acolhem o dissidente exibem-no como o bom exemplo a seguir, o representante da sensatez, do que deve ser: a moralidade pedagógica do regresso de um filho pródigo, a ovelha tresmalhada que volta ao redil, a conversão de uma infiel.
«Foi assim» é um texto de confronto político actualizado, um instrumento de propaganda contra o PCP e a ideologia comunista, um meio de alicerçar a sua carreira de militante da direita, de reforçar o seu prestígio no meio em que se situa. A autora age como inimiga do Partido, num posto ficcionalmente interior ao Partido, utilizando factos vividos e argumentos, num estilo que parece ser genuíno e natural, mas que é deliberadamente o do confronto politizado. Fim estratégico: desvalorizar, estigmatizar, ridicularizar e denegrir o PCP. Táctica: denunciar, expor pormenores, deturpar, caricaturar, montar cenários, desinformar, difamar, mentir. Principal ingrediente: a pessoa, a figura da arrependida, a pecadora que se confessa, servida por uma claque burguesa.
A autora está consciente deste truque e tenta controlar a informação. Quando a jornalista Fernanda Câncio (DN, 8/07/07), que a critica por assumir no presente a luta contra causas que eram suas, como o aborto, lhe faz a última pergunta, («Nos agradecimentos do livro está um monsenhor, o mote é uma frase bíblica, apesar de se dizer ateia de formação. Descobriu Deus, entretanto?»), a resposta é espantosa: «Sobre a minha vida depois de 1989 não quero falar».""
José Manuel Jara
Fiquem bem, hst.