sexta-feira, novembro 02, 2007

Há música no Museu...

Como os leitores habituais deste blogue não ignoram, não apenas sou parvo, como distraído: como tal, esqueci-me que quinta era feriado e fiz a crónica para a Rádio Pax. Como ficou feita e não dá para reutilizar, fica hoje aqui a crónica não lida na RP...

"No último fim-de-semana, uma festa de estudantes do Ensino Superior levou cor, alegria e pessoas ao centro da cidade. O pior é que com toda a agitação, veio também um terrível barulho nocturno.
Quem conhece o meu percurso, não ignora que é com extrema alegria que vejo as iniciativas dos e para os estudantes; dão demasiado à cidade, sem que a mesma, as mais das vezes, reconheça a sua crucial importância.
Por isso, a primeira palavra é de parabéns para quem tomou a iniciativa de organizar uma festa no Largo do Museu.
Mas o desejo dos organizadores de, no centro da cidade, fazerem uma festa que se prolonga pela noite até beijar as primeiras horas do dia, não depende apenas de vontade própria! É necessário autorização, pela autoridade administrativa competente!
Pelo que a pergunta se exige: em que parte recôndita do cérebro se esconde o bom senso de quem decidiu autorizar esta iniciativa, naquele local? Até podia ironizar, dizendo que esta autorização se inclui numa deliberada iniciativa de expulsar os bejenses do centro da cidade, que cada vez mais parece um deserto, à espera de uma OPA que o transforme numa espécie de ChinaTown. Mas não o faço a piada fácil, porquanto o fim de semana passado teve pouca graça para os moradores da zona, que foram assaltados no seu Direito ao descanso.
Não é a primeira vez que somos surpreendidos com autorizações surrealistas; os residentes e empresários da zona, ainda não esqueceram um inesquecível casamento cigano, no parque de estacionamento da piscina coberta.
Ainda mais, porque Beja não apenas tem um espaço excepcional para estas iniciativas – aquele que chamam Parque de Feiras e Exposições, embora esteja eternamente condenado a ser conhecido como Ovibeja – que, conformem os seus promotores bem sabem, está claramente subaproveitado.
E é exactamente por isso que é maior a justa indignação: se numa cidade em que as carências são imensas, não aproveitamos um espaço de eleição, cuja utilização é benéfica e a ninguém prejudica, o que justifica que se autorize esta festa naquele local? E não só pelos moradores, o que já seria bastante. Permitir a festa naquele local é ainda um acto de profundo desrespeito para como os empresários dos bares da cidade, que pagam os seus impostos e taxas, que contribuem para a segurança social, que contribuem para o erário municipal, tal a voracidade com que são submetidos a coimas, as mais das vezes absurdas, fomentando uma intolerável situação de concorrências desleal.
E, não se procure nas minhas palavras uma critica politica: o bom senso, não deve ter ideologia ou partido!"

6 comentários:

  1. Anónimo12:48

    Como sempre, corrosivo, mas pertinente!
    Abraço
    JP

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  2. Anónimo18:46

    Estas coisas levantam sempre uma série de dúvidas e ao mesmo tempo têm prós e contras pelo que podemos "gerir" da forma que nos der mais jeito!
    Eu (que não gosto particularmente de tunas) estive uns minutos no museu no passado sábado e dei por mim a pensar se se justificava ou não a iniciativa naqueles espaços (Museu e Pax Julia) e confesso que achei muito interessante pelas seguintes razões (que não estão por ordem de importância):
    1- O Centro da Cidade esteva muito mais animado que habitualmente e as tunas que vieram de fora puderam conhece-lo;
    2- A CMB apoiou esta iniciativa e se não tivesse apoiado ouvir-se-iam praças da república a dizer que não apoiam porque não são da mesma cor e haveriam recrimentos na Assembleia Municipal, etc;
    3- Muitos jovens da nossa cidade (nomeadamente de bairros sociais) a quem não é permitido entrar nos Karas estavam no Museu da Cidade deles a divertir-se;
    4- As esplanadas mais próximas da iniciativa estavam cheias de tunas a cantar e pessoas que ficavam a ouvir e eventualmente perceber que os universitários não são só bêbados (como infelizmente muitos pensam);
    5- Os bares e discos da moda estavam também eles cheios e parece-me que acham bem da iniciativa naquele espaço;
    6- Aquela iniciativa teve 2 anos em Serpa (que não é uma cidade universitária como sabemos) porque a CMB não dava as condições necessárias;
    7- O parque de feiras e exposições tem péssimas condições acústicas e (parece-me obvio) as tunas precisam de boas condições;...
    Enfim, parece-me que também houveram aspectos positivos, pelo que acho que a iniciativa se deve manter, também como forma de rejuvenescer o centro histórico da cidade.

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  3. @nónimo - subscrevo muito do que diz! Mas, uma nota: como dizem os nossos irmao brasileiros, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Sou totalmente favorável à CMB reconhecer a extrema importância dos estudantes e colaborar nas suas festas; outra, é autorizar uma discoteca a céu aberto, três noites seguidas, até às 5 da manhã! Foi isso e apenas isso, que critico!

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  4. Anónimo19:54

    eu nem isso critico porque talvez seja a democratização das discotecas uma vez que nem todas as pessoas podem entrar nas outras.

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  5. Esse anónimo (ou anónima) teve vontade de mandar umas farpas à Praça, mas saiu-lhe o tiro ao contrário. É que a nossa distinta CMB autorizou, de facto, a utilização do espaço fronteiro ao Museu, mas não foi seguramente para que ali tivesse lugar uma discoteca a céu aberto a debitar decibéis até às 5 e tal da manhã. E, meu caro anónimo, garanto-lhe que não é assim que se reabilita a vida no centro histórico da cidade. Ali "houveram" muitas coisas, mas nenhuma delas teve a ver com aquilo que você diz.
    Pode ficar descansado que levantarei o assunto na AM mas não será em forma de "recrimento".

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  6. @nikonman - um bom tema para a próxima AM é tentar saber em qual dos lotes da Colina do Carmo o excelso presidente comprou casa...

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