Francisco José de Goya 1746 - 1828 (aprox. 1800)
É impossível não colocar ambas as versões de uma mesma preciosidade.
Segundo rezam as crónicas, a roupa foi colocada na “maja” por cobardia do génio espanhol, quando foi informado que o marido da sua musa (eufemismo para modelo e amante) se dirigia para sua casa, de molde a obter satisfações, tendo-se fechado toda a noite no estúdio, para a manhã dar à luz um novo quadro!
Na análise ao quadro, sobretudo ao Maja Despida importa ter presente a sua data, para valorizar de forma justa a coragem do pintor em oferecer um nú, numa Espanha ainda terrivelmente tradicionalista e subjugada ao peso da Igreja Católica, não passando incólume às garras da Inquisição.
Na vida de Goya urge distinguir dois momentos, que marcam o homem e o pintor: uma juventude apaixonado, com aventuras e romances tórridos, concessões à boémia e uma segunda fase, marcada por um sinistra doença que o jogou para um cama, parcialmente cego e surdo! Estes acontecimentos estão marcados na sua arte, tendo o seu traço ficado mais livre e as suas cores mais sombrias. Inequivocamente neste sentido, uma das suas mais excepcionais obras “Saturno comendo os seus filhos”.
Das complexidades da vida de Goya, com profunda influência na sua arte, era o seu espírito revolucionário, o paradoxo de, por viver sobre a protecção do Rei, perseguir e ser perseguido pela Inquisição. Pintor do Rei, a salvo das garras da Inquisição, o mesmo Goya que pelos dias pintava frescos em Capelas e Conventos, pela noite desenhava postais onde retratava os horrores da Inquisição.
Maja despida é um quadro audaz, provocatório, extremamente erótico para o seu tempo, com um contraste de cores único, iluminando a mulher, real não mitológica, rendida numa cama, entregue aos caprichos do artista que, alegadamente pela primeira vez na história, ousou colocar numa tela os pêlos púbicos femininos…
Excelente o texto! Acho muito interessante a sua mistura de brincadeiras, cultura e politica! Contnue!
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