sábado, janeiro 15, 2011

Entardecer em Karl Johan, por Munch


O expressionista Edvard Munch é inequivocamente um dos meus pintores predilectos! Aliás, a minha casa, recebe os visitantes que duas réplicas de quadros seus e, por estes dias, um outro dá cor ao meu computador! 
Não me peça explicação porque, já dizia Santo Agostinho, há coisas que sabemos mas nunca nos peçam para explicar, para mim Munch sempre foi um pintor de Inverno. Admito que a sua origem norueguesa seja parte da explicação do preconceito, mas mesmo nas mulheres de Munch - e para mim as mulheres de Munch será sempre a Madonna - apenas a consigo imaginar numa noite chuvosa de Inverno! Ou de nevoeiro! 
O erudito leitor que me desculpe, mas apenas imagino a Madonna a beber vinho perto de uma lareira quente, vermelha de fogo, como os tons de Munch; sou impotente para a imaginar a "cabritar" numa praia debaixo do calor de um sol de verão, enquanto as águas salgadas se consomem no areal!
Mas esta noite, ofereço-vos o entardecer em Karl Johan, que sendo uma das obras neófitas de Munch - a pintura é de 1892 - já nos exibe o desespero e ansiedade que sempre o acompanharam, quiçá mesmo a vida e a morte, o medo, a melancolia! 
Contemplo o quadro, debruço-me sobre a tela e pergunto-me porque a multidão se veste de preto e de caras soturnas! Mais do que isso, questiono-me, de onde foge estas multidão?! De que oculto local corre esta gente, onde esteve, o que viu, que sentiu, que se esconde nos rostos carregados e inexpressivos! Sobretudo, o que me encanta, é a personagem ao lado direito, que alheio à multidão que foge, segue o seu próprio caminho, segue a sua própria direcção, impassível à fúria silenciosa da multidão! Porque, por vezes, ter convições e certezas é seguir o nosso destino, absortos das maiores que percorrem caminhos contrários! Porque nem sempre o caminho certo é aquele que a maioria trilha...

11 comentários:

  1. Anónimo00:27

    H: está soberbo!!! Caprichou...Adoro o texto todo, a pintura e, sobretudo, a última frase: não é fácil remar contra a maré, mas dá imenso gozo quando assim se vai no caminho certo.

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  2. Anónimo01:01

    Fantastico, o quadro e a sua interpretação H :)

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  3. Anónimo01:52

    Lindo! Comovente! Muito bem escrito! Definitivamente o blogue regressou ao seu melhor nível! E você também, que hoje estava uma tentação!

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  4. Anónimo16:24

    Um post sem falar no libido? Não é te H.

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  5. Anónimo16:44

    Há gente realmente parva! Parabéns H, o post está lindo!

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  6. Anónimo21:15

    Está estupendo!!!Isto faz-nos pensar... e colocar em causa o conceito de "democracia".....

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  7. Anónimo21:55

    É só por um bocadinho de pimenta e pronto !…
    Do melhor que já escreveu nos últimos tempos.
    A obra só por si absorve as palavras.

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  8. Gostei muito deste post!

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  9. Hugo: Ao ler o teu post, veio-me à memória um pintor que gosto muito: James Ensor. Caso não conheças, espreita um pouco a sua obra. Abraço.

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  10. Vitor: aqui vai um Ensor, que também adoro!
    http://ireflexoes.blogspot.com/2008/04/as-mscaras-e-ensor.html

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  11. Já li o teu post, que desconhecia.
    Conclusão: gostamos ambos do ENSOR. Tenho é pena de não ter uns quadritos dele....

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!