quinta-feira, março 10, 2011

Ich bin ein Deolindo


Ich bin ein Deolindo, se me permite usurpar a mítica frase de Kennedy, quando foi a Berlim defender a liberdade, contra aqueles que estavam interessados em trocar um tirano por outro tirano!  
Sou um Deolindo porque, quiçá ligeiramente fora de prazo, a geração que se prepara para Domingo Sábado não ir a Lisboa é ainda a minha geração, a geração das pessoas com quem trabalho todos os dias! Sou um Deolindo porque eu também tenho um vínculo ilegalmente precário, ao que acrescem razões que a própria razão desconhece ou, pelo menos, por enquanto, prefiro fingir desconhecer! Sou um Deolindo porque não percebo a ausência de caminhos para o país, irrita-me viver numa pátria onde a justiça dos Tribunais morreu e esqueceram-se de a enterrar, porque acordo-me a sonhar com uma cidadania mais madura e responsável!  
Mas ser um Deolindo não obriga a vir para a rua gritar pelo êxtase de ouvir os meus gritos, não me condena a apaixonar-me por essa coisa tão lusitana de culpar os outros, pela imensa dificuldade em fazer introspeção!
Porque é ridículo apelar ao exemplo da juventude dos países árabes! Porque os jovens árabes lutam pela democracia e a maioria dos Deolindos não estima a democracia que os seus pais lhe ofereceram!
Desculpem não ser cobarde e dizer o que todos querem ouvir: mas é irrazoável culpar o Estado se eu tirei uma licenciatura exótica e não consigo arranjar emprego! Desculpem mas em larga maioria as pessoas não ficam em casa dos pais até aos trinta por falta de condições de vida: muitos Deolindos ficam em casa dos papás para terem cama, comida e roupa lavada e gastarem o seu ordenado em noites, viagens, festivais de verão e no carro, numa mescla entre comodismo e consumismo!
Desculpem Domingo não ir à Manif mas prefiro uma geração onde os Deolindos se interessem pela coisa pública, fazem parte de movimentos associativos, procuram sem cidadãos exemplares, lutam pela excelência, são empreendedores e, antes de exigirem tudo dos outros, são exigentes consigo próprios!

17 comentários:

  1. Anónimo00:10

    Por não concordar consigo , tenho que elogiar o seu nome , que é Hugo!

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  2. Dica00:33

    H,

    Quem escreve e opina pela sua própria cabeça e com liberdade de expressão, não é hipócrita e é realista !

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  3. Anónimo01:07

    Mais um fabuloso texto!

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  4. Eu tb adorei o texto; só acho que não é preciso pedir desculpa qdo se diz a verdade nua e crua...

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  5. Parece-me que este tipo de manifestações não resultam há muitos anos ,se o objectivo é demonstrar descontentamento,todos sabemos o que os portugues pensam nesta altura,haverá outra forma de actuar?

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  6. Anónimo11:28

    "Não aprecio manifes; aquilo cansa-me: é tudo aos gritos e a música é má. Dizem que é bom para engatar, o Jel e o Falâncio devem facturar imenso, mas eu gosto de mulheres que fazem depilação. Mesmo assim, vou estar na Av. da Liberdade contra a precariedade, os recibos verdes e mais umas quantas deolindices. E vou porquê? Porque me apercebi de que algumas das mais lucrativas empresas nacionais querem fazer de mim um trabalhador sem direitos, um escravo sem salário. Passo a explicar: ao receber umas enormes e repetidas contas da EDP, graças a estimativas desfasadas dos meus actuais consumos, pedi que me lessem o contador todos os meses. Disseram logo que não é possível, que só de três em três meses, e nem sempre. Aconselharam-me a ser eu a ler o contador e a comunicar a leitura para poder pagar o que realmente gasto em cada mês. Ou seja, querem que eu trabalhe, à borla para a empresa de que sou cliente. Se pensarmos bem, há muitos milhares de portugueses a trabalhar, sem saber, para EDP, Águas, Gás, etc. Com jeitinho, o INE ainda arranja maneira de mostrar que em Portugal há pleno emprego. Já vimos Sócrates fazer manipulações de números mais grosseiras. Mas tudo isto ainda é mais evidente na Galp e noutras gasolineiras, que, além de nos roubarem, nos fazem seus empregados já que somos nós a encher o depósito. A gestão moderna, com o self service, substituiu o conceito "em cada cliente um amigo" por "em cada cliente um empregado". Eu, por exemplo, já enchi tantos depósitos que acho que me posso inscrever nas finanças como gasolineiro."

    http://www.ionline.pt/conteudo/109206-a-minha-luta-parva

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  7. Anónimo21:28

    Concordo, isto dos Deolindos é o exacerbar da luta de gerações, mas não tendo tudo de mão beijada, eu que sou um Deolindo, não tive o mesmo ponto de partida que os meus pais... a vida melhorou muito, e só é mais duro aceitar que não temos o nivel de vida da Europa porque está tudo ao alcance da nossa ansiedade consumista na qual nos deixamos encerrar! Vemos através da internet e da comunicação social uma realidade, que simplesmente "ainda" não pode ser a nossa, pois falta-nos a exigência connosco próprios, o empreendedorismo, o pragmatismo de jogar mãos ao possivel e realizar o impossivel... em vez de simplesmente o sonhar! Se me revejo nos anseios dos que apelidam de "Deolindos", não me revejo na caricatura que deles fizeram, colando-lhes esse rotulo... Já dizia R: concordia, integritas, industria, não nos fazia mal nenhum adoptar essa filosofia de vida!

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  8. Para uma determinada geração (a minha), esta é a primeira vez que se estará a manifestar descontente com algo de uma forma organizada. Por isso, e também por um pouco de bom senso, estar a pedir um plano de Governo a partir desta manifestação/deste movimento é demagogia. Sim, porque parece que é o que está tudo à espera que aconteça, que meia dúzia de nós que ainda mal cheiramos a leite apresente o caminho que 35 anos de democracia ainda não souberam traçar.

    O que vai acontecer, vão ser milhares de pessoas que vão mostrar-se descontentes pela primeira vez, que vão ter oportunidade de exercer cidadania a mais de 5 metros de uma urna (aqueles que a exercem, aceito esse reparo... isso são outros quinhentos).

    Sejamos razoáveis, e deixem esta geração dar a cara, deixem-nos crescer e aprender por tentativa e erro. Não identifico a 100% com todo este movimento, porque já está a correr o risco de ser engolido pela esquerda e usado como mais uma arma de arremesso nos debates mensais na AR. Mas identifico-me com os fundamentos que trazem esta malta toda para a rua: algo não está bem, e é preciso dizer "basta" a viver num constante medo de nos levantarmos e dizer que algo não está bem, quando de facto há algum tempo não está. Apenas tenho a apontar não ter havido esta manifestação de descontentamento há mais tempo, porque a situação não é, de todo, nova.

    Professor, permita-me apenas um reparo: a manifestação é Sábado, e não Domingo.

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  9. Ferrão, obrigado pela correção! Vou emendar no texto!
    Abraço.. e boa manif!

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  10. Boa manif???O que significa uma boa manif??:)

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  11. JC - a única vez que fui a uma Manif acabei a comer uma gaja boa! Respondi?!

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  12. Por causa disso é que metade da tua geração não percebe nada de Manifs... Gaita!

    A malta começou a ficar em casa dos papás porque dava jeito mas também é verdade que isso começou ao mesmo tempo que muitos pais tentaram incutir uma nova mentalidade nos filhos. "Faz o teu curso primeiro, arranja emprego e casa-te depois." E isto acabou por extrapolar... quando a tal ideia de que só depois de tudo certinho é que se começava a vida. Porque agora o tudo certinho implicava uma série de anos de curso.
    A mesma razão, a tal da estabilidade no emprego, que leva inúmeras mulheres a ter filhos, não aos vinte mas entre os 30 e os 40.

    Estas mentalidades não acontecem de um dia para o outro... são anos...

    Tal como o recibo verde.
    Como ex-publicitária (já lá vão quase duas décadas) sei bem porque é que em começo de carreira já me tinha mentalizado para os tais... É que era uma área em que se faziam muitas horas a mais e não eram para se receber, e até era suposto ganhar bem. E quase toda a gente aceitava a coisa assim. Ou então não trabalhávamos.
    E tal como fomos fazendo valer cada vez menos o valor do nosso trabalho e ganhando cada vez menos em cada trabalho... porque a concorrência era muita, assim se foi começando a passar noutras áreas.

    O facto de como professor te estares a deparar com uma geração de miúdos que não está nem aí, que conseguiu entrar num curso superior que não sei que raio de saídas tem, não te vai fazer mudar de área pois não?

    É que começo a achar que toda a gente fala disto como se falava das pessoas a viver em barracas: "mas se visses os carros que têm à porta..."
    E pronto, assunto encerrado, a malta nas barracas vivia bem p'ra caramba que tinham carros à porta!
    Ir lá mesmo ver como é que eram as coisas é que já era outra conversa...

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  13. Anónimo20:22

    Continuo a ouvir falar de tantos empregos e vagas
    disponíveis...mas que as pessoas recusam porque
    acham que não é próprio para "doutores"!

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  14. H o que significa uma gaja boa?

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  15. Que diga que sim?!!! Dahhh!!! ehehehe

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  16. "muitos Deolindos ficam em casa dos papás para terem cama, comida e roupa lavada e gastarem o seu ordenado em noites, viagens, festivais de verão e no carro, numa mescla entre comodismo e consumismo!"

    Arrebatador. Vão trabalhar e poupar. Façam-se à vida. O estado social como o conhecemos vai acabar. Os papás não duram sempre.

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!