A magia que faz com que os opostos se atraíam (Com Adenda)

Se esta crónica tivesse um título – na Rádio Pax, não têm – chamar-lhe ia como água e azeite ou a magia que faz com que os opostos se atraíam.

Não que a crónica fale de amores perdidos no tempo ou de pensamentos perversos; a perversão é mesmo o estado da arte da política no país e na região.

Peguemos no caso do PSD: se há memórias que convivem comigo desde a puberdade é ver na TVE o Verão Azul e os Congressos do PSD! Verdadeiros assombros mediáticos, agarravam o espectador ao ecrã, estupefacto de como é possível tantas sensibilidades diferentes ousarem reunirem-se num só partido! Mas a fragilidade do PSD, decorrente de ser um partido sem ideologia, que não sabe se é conservador ou liberal, se é de esquerda ou é de direita, se é socialista moderno ou social-democrata clássico, sempre foi a sua força, pela sua heterogeneidade, pela capacidade de fazer a síntese de pensamentos divergentes, unidos num espírito reformista, tendencialmente pouco estadista! E é exactamente que por na génese do PSD existir um estilo libertário é que a lei da rolha é uma vergonha para a história do Partido. Como é uma vergonha para o presente do partido inventarem um congresso para atacar Sócrates e terminarem com uma rolha enfiada!

No caso do PCP, enfiar a rolha e calar opiniões particulares, para que o Partido possa falar orgulhosamente a uma só voz, corresponde ao ADN do estatuto de camarada. Admito que nos partidos e nos rebanhos, seja esta a forma mais correcta, porque a diversidade de pastores nunca levou ovelhas ao seu destino: o que causa estupefacção é com um partido historicamente disciplinado como o PCP se perde em egos íntimos chumbando na CMBeja um orçamento que assume nem ter tido tempo para conhecer, sendo necessário a Assembleia Municipal desautorizar os vereadores camaradas e permitir a aprovação de um orçamento numa atitude clara de repreensão de meninos mal comportados e alegadamente birrentos.

O drama do PSD é similar ao do PCP: o PSD é um partido perdido por nunca ter tido ideologia e que vai amanhã votar mais uma liderança transitória e o PCP é um partido fortemente ideológico, mas perdido no tempo, porquanto as suas referências doutrinárias, sempre que estiveram no poder, pautaram-se por ditaduras anti-democráticas, com restrições intoleráveis nos direitos individuais!

Da mesma forma que o PSD apenas consegue estar unido quando é poder – e só isso explica que quando Durão Barroso se transmutou para José Manuel Barroso, o partido quase sem excepção tenho engolido um sapo chamado Santana, sem se dar ao trabalho de fazer eleições, o PCP aqui do burgo passa por um curioso fenómeno de psd-ização, onde a soma das facções mandou para a calendas gregas a famosa unidade da acção. E a razão é a mesma: com problemas ideológicas, com a inexistência de um projecto para a região e para o País, o único valor que importa é regressar ao poder, pelo prazer de ser poder e sentir-se poderoso!

Adenda: Ainda sobre a trapalhada da dupla posição da CDU sobre o orçamento da CMBeja, o Vereador Miguel Ramalho quebrou o silêncio num comentário do blogue Alvitrando! Com críticas ao Presidente e aquilo que ele chama - e curiosamente um anónimo em outro blogue - meninos de coro! Salvo erro, esta foi a primeira vez que o Vereador escreve oficialmente num blogue! Havia coisas giras que podiam ser ditas! Mas agora não me apetece...