Segunda-feira feira no fim da manhã, aproveitando uma pausa nesta chuvosa Primavera, calcorreei o centro da cidade de Beja, sem pressa nem destino, pelo simples prazer de uma boa conversa e de um passeio! Subi a rua a que chamamos das lojas, atravessei a Praça deserta da República, enfiei-me numa ruela, entrei no Castelo e fiquei mais surpreendido pelo que não vi do que pelas obras, continuei pela rua que liga a Sé a Santa Maria, voltei atrás, passei pela rua da cadeia velha, que será sempre a rua dos caixões, voltei a entrar na Praça, para descer a rua em que um estranho incêndio implodiu os serviços técnicos da Câmara, para regressar ao local de partida, no meu caso, o parque de estacionamento maravilha, que destruiu um bonito parque, para erigir uma ponte sem rio!
Regressei deprimido ao carro! Nas ruas onde antes havia movimento, encontrei tristeza, vi o vazio desprezível, centenas de casas fechadas, onde apenas habita a memória de quem um dia lá viveu! É a história recente da nossa cidade que ficou esquecida no tempo, condenada ao abandono, uma ausência quase absoluta de comércio, apenas reminiscência de habitantes, presos a casas gastas pela pobreza ou pelo sonho de viver na zona histórica, que oferece muito pouco mais do que nada!
E os erros do passado recente não são resposta bastante; porque a degeneração dos centros históricos da maioria das cidades portugueses não é culpa dos comunistas; nem se resolve nas urnas ou por artes mágicas!
Mas o facto de um problema ser complexo, não pode ser motivação para desistir, para continuarmos de olhos insensíveis a assistir ao definhar de parte da nossa história colectiva, de uma riqueza mais valiosa do que dinheiro! Ninguém me peça nesta manhã para oferecer uma solução, porque gosto muito mais de dúvidas do que de certezas absolutas: mas não me parece que expulsando os carros do centro, roubando estacionamentos, encerrando ruas ao trânsito se consiga caminhar para inverter esta tendência de desertificação! Como será crucial recuperar prédios a todo o custo, com obras estruturais ou pelo menos compondo as fachadas, fazendo regressar o branco a casas que hoje são mares de fendas e de cores esbatidas de tristeza! E trazer pessoas para o centro! Se por agora é complicado persuadi-las a morar, que se inventem feiras e feirinhas, pequenos mercados, espectáculos, exposições, que se ofereça vida e alegria a estas ruas onde por estes dias apenas mora a tristeza!
Porque no fim do dia, quando o cansaço nos traz a noite, uma cidade, seja pequena ou grande, com mais ou menos lugares de atracção, não é mais do que a simples soma das pessoas que a vivem! E que as amam…
Foi o triste resultado de 35 anos de desgovernação comuna ...
ResponderEliminarA propósito, alguém sabe porque é que (o que resta d)o "comércio local" cá do burgo resolveu começar a funcionar a partir das 10 horas da matina? É que o horário de pausa para almoço (desde "quase à uma" até "cerca da três e picos"? Tal como o encerramento às 19 em ponto!
E não adianta dizer que a culpa é da "crise" (a magana!) nem do Pulido, claro!!! ...
Ainda existe por cá uma associação comercial? o que faz? ...
O texto está lindo! Parabéns, Hugo!
ResponderEliminarDiga-se lá o que se disser e culpe-se que se quiser culpar, o maior problema de Beja continua a ser o de sempree está individualizado há muitos anos. São os bejenses, todos nós que continuamos a preferir dizer mal da nossa terra, em prol de qualquer outra.
ResponderEliminarE não há, aparentemente, volta a dar a isto....
E a Praça da República:
ResponderEliminarNo ponto mais alto, situada
Restaurantes e esplanadas
Noites de verão, a abrasar
Por candeeiros toda iluminada
Pisando a linda calçada
Havia muita gente a passear
@anónimo das 2.30 - Essa é carapuça que não me serve! Nos tempos recentes, fui daqueles que mais elogiou a cidade!
ResponderEliminarCaro H:
ResponderEliminarO problema da parte histórica das nossas cidades é que actualmente elas são construidas em função dos automóveis, e estes dão-se mal com ruas estreitas e com os espaços para pessoas que viam na proximidade uma ajuda.
A única solução para as zonas históricas é readaptá-las para apoios a Escolas. Lares de estudantes, Bibliotecas temáticas, Refeitórios ... . Concentrando aí essas estruturas, o resto vem por acréscimo.
Há uns anos estive com uma senhora que trabalhava na Câmara de haia/Holanda, que me disse que esta comprava as casas aos idosos e os deixava lá a continuar a viver, para depois poder integrá-las nas soluções que esses espaços exigiam. É que se se deixa a solução a cada um, sem um plano geral, a coisa não anda.
Um abraço.
capitão - estamos em total sintonia: defendi - e sei que há coisas a mexer - que o centro da cidade fosse repensado para os jovens, permitindo que pudessem habita-los! Mas esse é um percurso, que como frisou, demora anos: e para já é necessário fazer algo, porque é impossível continuar a adiar!
ResponderEliminarAinda a praça da República:
ResponderEliminarOutros olhos a viram
E em reunião decidiram
Com a linda praça acabar
Triste ficou a cidade
Não lhes perdoa a maldade
Não há gente a passear
A sua sensibilidade é comovente!
ResponderEliminarLindo texto, Hugo.
ResponderEliminarFoi por estas e por outras que fiquei tua fã e te admiro tanto.
Beijinho
É de facto um texto maravilhoso e que retrata realmente o estado em que se encontra a "nossa" cidade! Que o diga eu que trabalho, aliás "tento" trabalhar nessa zona da cidade. É dificil acreditem, quando o nosso trabalho depende da vinda de pessoa (clientes) e eles não veem, talvez porque os atractivos são poucos ou nenhuns. A propósito uma das promessas do novo executivo não era modificar a PRAÇA DA RÉPUBLICA?
ResponderEliminarABRAÇO
Obrigado, Margarida! Beijinho
ResponderEliminarCFMF - Modificar a Praça especificamente, penso que não! Mas sempre se defendeu uma aposta séria no centro histórico!
ResponderEliminarHugo eu qdo disse modificar a Praça falava no sentido de facilitar estacionamento. Já agora, e visto q atravessou a Praça, não caiu dentro de uma autentica "cratera" q se encontra á saida para a rua das lojas? Aquilo é uma vergonha!!! Enfim, esperemos então por essa tal dita aposta forte
ResponderEliminarabraço
É de facto um texto maravilhoso e que retrata realmente o estado em que se encontra a "nossa" cidade! Que o diga eu que trabalho, aliás "tento" trabalhar nessa zona da cidade. É dificil acreditem, quando o nosso trabalho depende da vinda de pessoa (clientes) e eles não veem, talvez porque os atractivos são poucos ou nenhuns. A propósito uma das promessas do novo executivo não era modificar a PRAÇA DA RÉPUBLICA?
ResponderEliminarABRAÇO
É de facto um texto maravilhoso e que retrata realmente o estado em que se encontra a "nossa" cidade! Que o diga eu que trabalho, aliás "tento" trabalhar nessa zona da cidade. É dificil acreditem, quando o nosso trabalho depende da vinda de pessoa (clientes) e eles não veem, talvez porque os atractivos são poucos ou nenhuns. A propósito uma das promessas do novo executivo não era modificar a PRAÇA DA RÉPUBLICA?
ResponderEliminarABRAÇO
Em nome não se sabe bem do quê foi a cidade esventrada da mais linda e bela praça que tinha. Resume-se a praça a umas lajes partidas, desniveladas e soltas. A culpa morreu solteira.
ResponderEliminarQue encanto, que beleza!
Linda calçada à portuguesa
Mão de artista a talhou
Um pelourinho a vigiar
Arcos e arvores a rodear
A cidade dignificou
cfmf - por acaso, esse buraco não me recordo! Mas sei que há muitos na Praça!
ResponderEliminarSobre estacionamento nunca se falou: mas, pessoalmente, defendi alterações no trânsito, com reabertura da Rua dos Infantes! E acho que merecia ser estudado um estacionamento em altura, algures na zona histórica!
Será que alguém próximo dos comunas que desgovernaram a Câmara durante 35 anos tem a coragem de vir a público dizer TODA A VERDADE sobre o "acidental" (e providencial, dizemos nós) incêndio que destruiu o edifício dos Serviços Técnicos e sabe-se lá mais o quê ... numa altura em que já era mais que previsível a derrota dos comuna!!!
ResponderEliminarOlha amigo, ainda há lá ruas com bastante vida! Vivi na Rua da Guia muitos anos e lá nunca me queixei de falta de "movimento", nem de carros, nem de pessoas...
ResponderEliminarGostei de ler, apesar de triste este texto... Por tudo o que aqui descreves, não concordo, ao contrário da maior parte dos meus amigos que permaneceram em Beja, com o Centro Comercial que aí querem construir, igual a tantos outros. Estas cidades de interior como Beja, têm outras potencialidades e não são comparáveis aos grandes centros, porque o que têm de bom e diferente é a identidade e o facto de não serem aglomerados urbanos. As cidades com história são assim, diferentes das outras...
ResponderEliminarZig - Será porque tinha trânsito...
ResponderEliminar@amora - eu percebo o que dizes! E em parte até concordo! Porque boa parte da nossa riqueza é a tradição e o pitoresco! Mas quem insiste em viver cá, tem as mesmas necessidades de outras cidades...
ResponderEliminarCumprimentos
@H o C.C. convencional não me parece necessário para o que Beja necessita e que faz muitos saírem daí, deixando família e amigos. Vamos continuar a ver os bejenses a irem mudar de ares ao Forum Algarve, ao Montijo ou Almada... Eu queria era ir aí apanhar ar, passear nas ruas, comprar, ver espectáculos ao ar livre, curtir uma esplanada nessas maravilhosas noites de Verão, jantar num bom restaurante! Eu e se possível os restantes habitantes de Portugal :)
ResponderEliminaramora - percebo o ponto de vista! E subscrevo-o! Até porque fui daqueles que perdi bastante pelo desejo de viver na cidade onde nasci!
ResponderEliminarApenas acho que um CC não inquina a tranquilidade e calma que se respira em Beja!
Parece-me o roteiro estar quase a chegar ao fim.
ResponderEliminarSob a pena suave e a escrita elegante do produtor do blogue, subimos ruas, descemos travessas, passámos por esquinas, constatámos abandono, saudade e tristeza de ruas velhinhas e estreitinhas e becos e escadinhas que Beja também tem. Se lhe queremos restituir a vida, segurem-se as ideias, junte-se o branco da cal, um manjerico numa janela,uma tasca ou uma taberna, passarinhos fritos, caracóis e outros bichas móis.
Como um rio que contorna colinas mas vai desaguar no mar, estas ruas velhinhas e estreitinhas vão todas desembocar numa praça que:
Há séculos construída
Para feiras concebida
O seu nome mudou
D'enlevo a sua traça
Em Beja, a mais linda praça
Da república se chamou
@anónimo - gostei do poema!
ResponderEliminarÉ de facto um belo texto, como tantos outros que o autor nos tem proporcionado. Este diz-me mais porque toca precisamente naquilo que ao longo dos anos tenho tentado defender e dar a conhecer: o património cultural da cidade, em todas as suas vertentes.
ResponderEliminarUma cidade monumental que foi destruída parcialmente pela própria vereação camarária, desde o século XIX, sempre em prol do progresso e da modernidade. Há pouco tempo o programa POLIS, com a conivencia de todos os partidos políticos, arrasou mais uma parte da história da cidade - coisas do Estado Novo, dos fascistas, disseram alguns, "é" para deitar abaixo. E, não há dúvida, realizaram agora obra cultural de grande nível, com a charca do jardim do Bacalhau e uns degraus perigosíssimos sem corrimão e pontiagudos nos extremos, o monstro de Loc Ness na avenida Miguel Fernandes, as lajes sem memória e um pelourinho apeado e desfigurado na praça da República, um campo de minas e armadilhas no largo de São João (já lá caíram várias pessoas, tal é a quantidade de obstáculos para um programa que exigia a sua eliminação). Pois é esta a cidade que temos na área do dito protegido centro histórico, mais o aborto que é o horroroso edificio de marmore do museu de sítio da rua do Sembrano, sem qualquer respeito pelo contexto arquitectonico do edificado adjacente. São lições de estética e de cultura pelo absurdo, não se entendem. Mas, meus amigos, eu já estou de saída. Estou a mais.
Um abraço de Leonel Borrela
Leonel Borrela - Por tantas razões, as suas palavras deixam-me vaidoso! Obrigado!
ResponderEliminarÉ tudo verdade, deixa-te estar Borrela. Pode ser que alguém nos oiça.
ResponderEliminarNão te beijou o mar
Nem um rio te quis visitar
Por isso não tens marginal
Nenhum poeta te quer cantar
Até de capital te querem tirar
Mas onde está o mal!?
Eu pessoalmente prefiro pintura, mesmo que a preto e branco. :)
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