As  eleições são o orgasmo da democracia! Ou, se a frase pode ofender os meus mais  puritanos leitores, as eleições para a democracia, está como a procriação para o  casamento: são aquelas que caracterizam esta, são a sua razão de ser e de  subsistir! Mais do que não existir democracia sem eleições, são as eleições que  descrevem a democracia!
Por  isso o dia das eleições deveria ser de êxtase: contados os votos, eleito, neste  caso o Presidente, o país devia elevar-se numa onda de esperança renovada, na  crença de que as coisas iriam melhorar! Mesmo que passado uns meses tudo ficasse  na mesma e voltássemos a mergulhar na lusitana apatia, nesta nossa tristeza  andante, este desalento, neste nosso fado! 
Porque  é essa a definição de democracia: pessoas ou partidos, oferecem-nos um projecto  para o futuro do País, fazem-nos parte de uma crença colectiva, motivam-nos a  acreditar num ideal! E a vitória daqueles em que votámos, num projecto do qual  também fazemos parte, é um momento de júbilo e de esperança, de confiar que o  amanha vai ser melhor do que ontem! A derrota dos que apoiámos deverá ser um  momento de reflexão e de igualmente de confiança, um aceitar que não somos donos  da razão, um acatar com respeito a vontade da maioria!  
Muitos  dos nossos melhores, tanta gente boa deste país deu tanto de si, tanto lutou,  tanto sofreu, tanto perdeu, para oferecer à geração seguinte, uma das mais  deliciosas prendas do mundo: o presente de sermos livres para em democracia  escolher o nosso futuro!
Mais  fria do que a noite eleitoral do passado Domingo, só mesmo a temperatura! Porque  a noite de Domingo foi o culminar de uma campanha que roçou – ou ultrapassou – o  patético, um deserto absoluto de ideias, um lago de demagogia onde tudo se  discutiu menos a competência presidencial, um repetir do jogo canalha das  insinuações ao carácter, algo que começa a ser a forma recorrente de se fazer  política em Portugal! 
E  domingo os portugueses deram a resposta que estes candidatos mereciam: 53% dos  eleitores não se deram ao trabalho de votar, mais de 6% dos que disseram  presente, fizeram desenhos sugestivos no boletim ou votaram em branco, 4,5%  votaram num Titirica  e,  apesar de uma campanha medonha, mais de 14% dos eleitores escolherem Nobre!  
Destas  palavras ninguém procure juntar a minhas voz aos tontas que procuram retirar  legitimidade politica ao Presidente eleito, porque, os números são muito  similares aos do Presidente Jorge Sampaio e as vozes que agora falam, fizeram no  passado o que melhor sabem, i e, calaram-se! Dito isto, escamotear a necessidade  de reformular o sistema eleitoral, esconder a urgência em credibilizar a  política e os políticos é um atentado contra a democracia!
A  democracia é como uma bela mulher: no dia que pensamos que está conquistado para  sempre, é o dia em que a começamos a perder! Portugal não tem massa critica para  um Presidente, cinquenta membros do Governo, duzentos e cinquenta deputados,  duas dezenas de governadores civis, trezentos presidentes de câmara, milhares de  vereadores, milhares de presidentes de junta, mais os milhares e milhares de  cola cartazes que enchem os gabinetes desta gente toda, empresas publicas e  municipais! O eleitor do século XXI não suporta continuar a votar em Zé Ninguens desconhecidos e reclama pelo direito a votar especificamente em quem  deseja, ou seja, em círculos uninominais, de forma a poder responsabilizar  directamente quem o representa! Mas claro que os partidos não querem ler isto:  era só o que faltava terem de escolher pessoas com base na competência…