sábado, julho 12, 2008

Mona Lisa, por Leonardo da Vinci

Não vou comentar a leviandade de comentar este quadro, quiçá o mais dissecado de sempre, por pessoas de alto coturno e elevada sapiência, pelo que quaisquer palavras minhas seriam um somatório de banalidades com leviandades, num patético resultado final de altiva e insensata ignorância!

Mas parto da magnifica obra de Leonardo da Vinci para partilhar com o meu paciente leitor o meu maior fetiche, uma tara recalcada, um encantamento por olhos. Porque contrariamente aos eruditos, fascina-me mais na tela o olhar que o sorriso!

Não a beleza intrínseca dos olhos, porque toda a beleza é efémera, quase sempre mais intensa nos olhos de quem a contempla do que no objecto do desejo: o que realmente me fascina são os olhares!

Convido o meu bom leitor a concentrar-se no olhar de Gioconda, abstraindo-se de tudo o resto. Carrega consigo para o lugar tranquilo onde deixamos a imaginação soltar-se, a frase batida, aqueles lugares comuns de que os olhos são os espelhos da alma, sinceros como punhais insusceptíveis de serem conspurcados com o pecado da mentira e do engano!

Se fechar neste instante os seus olhos, consegue ver o olhar de Mona Lisa?

Consegue ler naquele olhar o sorriso de uma menina travessa que carrega consigo o pecado da volúpia, o delito do desejo inconfessável e proibido? Ou quiçá, ou contemplá-lo encontre nele escrito a devassa do sofrimento de um amor perdido no tempo, as chagas da saudade impotente do desejo não consumado! Ou o meu leitor ao olhar com os seus olhos aquele outro olhar, vê nele a pacatez tranquilidade da maturidade, cicatrizes que sararam serenamente, a vida vivida com a certeza de que nenhuma dor nos mata, apenas nos oferece sapiência para novos sofrimentos que o fado do destino nos reserve?

No olhar de Gioconda, como nos outros olhares encontramos a transparência inexpressiva de ler neles apenas o que os nossos olhos querem ver, um mero espelho dos nossos sonhos, desejos e recalcamentos, penumbras de uma verdade que pretendemos ver ou fugir! O que não lhes retira o encanto…

4 comentários:

  1. Sábado é o meu dia preferido deste blog :P

    Gostei dessa apreciação tão pessoal:)

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  2. Anónimo00:22

    sobre isto já muito se falou.
    Na minha modesta opinião de sapateiro, a senhora estava feliz, muito feliz, porventura quem sabe, talvez apaixonada...pelo pintor, ou alguém atrás dele.
    aquele sorriso e olhar é de quem tinha acabado de ser feliz....pelo menos durante dez minutos!!!!!
    ps: já vi alguns olhares daqueles, apenas não tive oportunidade de os pintar.....é q os maridos estavam a chegar!!!!!

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  3. Anónimo09:48

    Seria boa na cama esta moça.....????

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  4. «Olá, guardador de rebanhos,
    Aí à beira da estrada,
    Que te diz o vento que passa?»

    «Que é, vento, e que passa,
    E que já passou antes,
    E que passará depois.
    E a ti o que te diz?»

    «Muita cousa mais do que isso.
    Fala-me de muitas outras cousas.
    De memórias e de saudades
    E de cousas que nunca foram.»

    «Nunca ouviste passar o vento.
    O vento só fala do vento.
    O que lhe ouviste foi mentira,
    E a mentira está em ti.»

    Fernando Pessoa

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