Não vou comentar a leviandade de comentar este quadro, quiçá o mais dissecado de sempre, por pessoas de alto coturno e elevada sapiência, pelo que quaisquer palavras minhas seriam um somatório de banalidades com leviandades, num patético resultado final de altiva e insensata ignorância!
Mas parto da magnifica obra de Leonardo da Vinci para partilhar com o meu paciente leitor o meu maior fetiche, uma tara recalcada, um encantamento por olhos. Porque contrariamente aos eruditos, fascina-me mais na tela o olhar que o sorriso!
Não a beleza intrínseca dos olhos, porque toda a beleza é efémera, quase sempre mais intensa nos olhos de quem a contempla do que no objecto do desejo: o que realmente me fascina são os olhares!
Convido o meu bom leitor a concentrar-se no olhar de Gioconda, abstraindo-se de tudo o resto. Carrega consigo para o lugar tranquilo onde deixamos a imaginação soltar-se, a frase batida, aqueles lugares comuns de que os olhos são os espelhos da alma, sinceros como punhais insusceptíveis de serem conspurcados com o pecado da mentira e do engano!
Se fechar neste instante os seus olhos, consegue ver o olhar de Mona Lisa?
Consegue ler naquele olhar o sorriso de uma menina travessa que carrega consigo o pecado da volúpia, o delito do desejo inconfessável e proibido? Ou quiçá, ou contemplá-lo encontre nele escrito a devassa do sofrimento de um amor perdido no tempo, as chagas da saudade impotente do desejo não consumado! Ou o meu leitor ao olhar com os seus olhos aquele outro olhar, vê nele a pacatez tranquilidade da maturidade, cicatrizes que sararam serenamente, a vida vivida com a certeza de que nenhuma dor nos mata, apenas nos oferece sapiência para novos sofrimentos que o fado do destino nos reserve?
No olhar de Gioconda, como nos outros olhares encontramos a transparência inexpressiva de ler neles apenas o que os nossos olhos querem ver, um mero espelho dos nossos sonhos, desejos e recalcamentos, penumbras de uma verdade que pretendemos ver ou fugir! O que não lhes retira o encanto…
Sábado é o meu dia preferido deste blog :P
ResponderEliminarGostei dessa apreciação tão pessoal:)
sobre isto já muito se falou.
ResponderEliminarNa minha modesta opinião de sapateiro, a senhora estava feliz, muito feliz, porventura quem sabe, talvez apaixonada...pelo pintor, ou alguém atrás dele.
aquele sorriso e olhar é de quem tinha acabado de ser feliz....pelo menos durante dez minutos!!!!!
ps: já vi alguns olhares daqueles, apenas não tive oportunidade de os pintar.....é q os maridos estavam a chegar!!!!!
Seria boa na cama esta moça.....????
ResponderEliminar«Olá, guardador de rebanhos,
ResponderEliminarAí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»
«Que é, vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»
«Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.»
«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»
Fernando Pessoa