quinta-feira, julho 10, 2008

Os velhos...

Longe vão os tempos onde a velhice era sapiência, a experiência de uma vida vivida, o somatório de experiências e histórias que mereciam ser contadas. E ouvidas com ouvidos de quem escuta!

Os velhos de hoje são um embaraço que a morte não carrega, depositados em lares, uns melhores outros piores, esperando que se finde, numa agonia solitária composta de abandonos e desprezos vários!

Numa sociedade onde o único valor realmente importante é o valor do Euro, veneramos a futilidade hedonística, cultivamos o trivial e o efémero e escondemos longe da vista toda a podridão que agarrado ao mito que o que está longe da vista não fere o coração!

Todos me dizem que as vidas modernas são complexas que os empregos instáveis, as habitações caras e o tempo escasso, pelo que as famílias não podem cuidar dos seus velhos

Mas não consigo deixar de recordar outros tempos, nos quais não vivi, onde a miséria era abudante, nas casas comia-se fome, mas havia sempre lugar para mais um, onde receber em casa os nossos velhos, não era um embaraço, mas o prazer de viver com a experiência, retribuir na velha infância o que recebemos na nossa!

Respondem-me que hoje não há lugar para os velhos! Que é apenas poesia acreditar que na casa de cada um há lugar para o velho pai e mãe e sacam do pragmatismo egoísta para dizer que nos lares há espaços e pessoas treinadas, para os acolher e mimar!

E sei bem que há espaços assim! No Portugal de hoje existem espaços excepcionais onde os nossos velhos recebem todos os cuidados e regalias, são tratados com respeito, mimo e dignidade, verdadeiras segundas casas onde são felizes nos últimos dias! Mas esses espaços são quase exclusivos de uma minoria endinheirada que consegue viver a velhice com um sorriso!

A maioria dos idosos portugueses que a vida tirou de suas casas, são internados em lares onde vivem enjaulados esperando a morte; nos últimos anos, até algumas instalações melhoraram e os funcionários tem alegadamente melhores habilitações: mas locais absolutamente destituídos de afectos.

A velhice é um dos mais lucrativos negócios da actualidade: aproveitando as lacunas do estado, pseudos IPPS e muitos privados agarraram este negócio e crescem os lucros destas empresas, baseadas na exploração dos mais necessitados! Quem me conhece sabe bem que sou o primeiro defensor da iniciativa privada: mas choca-me assistir à exploração da velhice por pessoas sem escrúpulos, abusando da dependência dos mais carentes, numa fase da vida que o tempo lhes roubou o direito de se queixarem!

6 comentários:

  1. Anónimo04:30

    Não podia estar mais de acordo..
    Infelizmente lido com esses abandonos dia após dia!
    os idosos são deixados em hospitais largados principalmente em alturas de ferias de verão e épocas festivas como o natal...
    O natal em que a união das familias é supostamente o mote (apesar de achar de uma ironia tremenda)em que os profissionais de saúde se tornam os entes mais queridos pois estão 24 horas a acompanha los, apos serem largados por quem lhes deu tanto.

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  2. existem outras culturas em que a velhice é valorizada..os mais velhos são considerados os fiés depositários da sabedoria..na cultura ocidental não existe essa valorização e mesmo noutras culturas a tendência é para desaparecer.

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  3. Anónimo18:24

    Caro H, disseste tudo.

    É pena é a ASAE não saber avaliar estas situações. Pelo menos teria um objectivo final bem mais digno.

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  4. Muito bom post. gostei.

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  5. para uma família que não tenha rendimentos milionários (milionário no sentido de receber mais de 1 milhar de euros) mensais, é impossivel colocar os seus velhos num lar decente.
    para uma familia que não tenha rendimentos milionários é impossivel alguém deixar de trabalhar para ficar em casa com os seus velhos.
    para uma família que ame os seus velhos é impossível deixá-los em qualquer hospital ou lar... é de crueldade atroz... não é humano. a solidão é a pior doença dos nossos velhos. é aquilo que os mata.

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  6. e para mim é óbvio que o estado tem a responsabilidade de dar às famílias sem rendimentos milionários condições para tratar dos seus velhos.

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