sábado, julho 05, 2008

Rapariga na janela, por Dali

Podemos tentar esconder os nossos vícios, dissimular do mundo as nossas falhas e apetências, mas um dia, porque há sempre um dia, a verdade aparece desnuda carregada de evidências: se eu fosse um quadro, era surrealista!

O que não deverá ser surpresa para quem acompanha estes pedaços do blogue! Esta noite divido com quem tem paciência para me ler, Dali, para mim o melhor pintor espanhol de sempre (sim, eu sei onde nasceu Picasso!).

Nesta tela, desenhada na primeira fase de Dali, debruçada na ombreia duma janela abandonada, uma petiza contempla o horizonte, repousada sobre numa ombreia galante, onde a simplicidade da sala contrasta com a exuberância da paisagem!

Intriga-me a rapariga, descontraída e não consigo evitar questionar-me sobre os pensamentos que lhe ocupam o momento, se admira a paisagem ou se a olha sem a ver, demasiado perdida em divagações que se recusa a partilhar! Procuro encontrar nas águas calmas que passam, um espelho que me permita ver aquele rosto, na ânsia de descobrir se ri ou se chora, se o mar vê naquele olhar um sorriso ou se olhos se fecham sem conseguirem sonhar. Ou carrega no rosto o sonho da espera de um marinheiro que regressará aquele porto para a ensinar a amar?

Assumo a mesquinhez da inveja! Queria estar debruçado naquela janela, beber daquele mar, perder-me no azul turvo das divagações, navegar na imaginação daquela solidão!

Talvez sejam apenas os meus olhos, mas sinto a rapariga presa naquela janela, como que sequestrada pela vida, esbulhada da capacidade de embarcar no barco da vida e zarpar daquela sala inóspita! Mas fica, sem saber a razão porque não vai, as motivações para ver os barcos que passam atracada na marina seca da comodista tristeza! Porque, as maiores prisões da vida, nas têm grades e muros altos, homens e mulheres de armas na mão, mas estão dentro de cada um de nós, sobre a forma de medos, pesadelos e sonhos, que nos castram a coragem de lutar, ficando parados, olhando a vida de uma janela, esperando pelo mar que imune segue o seu percurso, azul, longínquo, como aquele céu de fim de dia, que o sol teve vergonha de homenagear!


5 comentários:

  1. Anónimo02:52

    Excepcional.. Ao seu melhor nivel!

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  2. Bom texto e bom conteúdo!
    Mas... (este eterno mas que nos entala a vida para mostrarmos que também existimos)... todos somos condicionados.
    O Baal é um mito.

    Há anos dei por mim a pensar qual seria a lei fundamental da existência humana e com algum erro aceitei:
    "To be, or not to be!"
    Mas SER dá uma "trabalhêra"!

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  3. bonito, o quadro. bonito, o texto. bem bonitos.

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  4. Se eu fosse um quadro era também surrealista...Era um quadro de Magritte =)

    Gostei!

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  5. plasticine - o primeiro quadro aqui comentado... foi um Magritte!!

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!