sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Querem regionalização??!!

De quando em quando, alguns esforçam-se para colocar a temática no centro do debate. Chegaram mesmo a obrigar alguns de nós a ir às urnas “matar o assunto”, mas nem o profundo desinteresse dos eleitores acalmou os desejos dos defensores da Regionalização. Cá pelo burgo, desde sempre que o Senhor Presidente da Câmara tem sustentado a ideia, desejando a criação de uma Região piloto, obviamente num único Alentejo, com toda a certeza tendo Évora como sede.
As pretensões regionalistas encontraram no ultrapassado mês a condescendia do ainda Primeiro-ministro a braços com carências de esquerda, que na sua proposta para o plebiscito socialista, teve a originalidade de recuperar duas propostas gastas: o casamento homossexual que o seu partido assassinou há poucos meses e a regionalização que os portugueses recusaram em 1998. Mas, como sabemos, o referendo existe para ser repetido até que se obtenha o resultado desejado…
Com o mesmo fervor que defendo uma reforma administrativa e a descentralização, sou frontalmente contrário ao que chamam de regionalização. Não tenho a ingenuidade de ignorar que aquilo que sustento não colhe muitos apoios, que estou a pregar contra a opinião dominante e que as minhas palavras são passíveis de gerar crítica e incompreensão, mas cometo a blasfémia por imperativos de consciência.
Portugal não precisa de ser esquartejado em cinco ou oito regiões, antes pelo contrário. O que o País precisa é de diminuir o prolixo número de entidades político-administrativas; por mais impopular que seja, urge exterminar com largas dezenas de concelhos que perderam essa dignidade e que conservam órgãos municipais sem que tal se justifique; da mesma forma, nada justifica que as juntas de freguesias urbanas se mantenham, porquanto, desde há muito, não têm meios nem competências para desempenhar qualquer função socialmente útil.
Portugal precisa de descentralização. E muito. Vivemos num Pais com duas cidades e tudo o resto é paisagem (quiçá com a honrosa excepção de Braga, amiúde Aveiro), demasiado centralizado, onde o poder é exercido por burocratas de gabinetes partidários, sem rosto nem alma; mas o caminho não se faz inventando novas estruturas administrativas entre os cidadãos e o poder do Terreiro do Paço, eufemismo para designar os grandes restaurantes onde alguns, poucos, conduzem os destinos do País.
A boa nova que agora nos falam – Regionalização – não corresponde a um anseio das populações, mas a uma necessidade das gulosas máquinas partidárias que encontrem naquela um expediente magnífico para encarreirar os seus dependentes. E é por isso mesmo que a proposta faz o pleno dos partidos no nosso distrito.
Desde a monarquia – e a história é único meio que nos permite perceber o futuro – que abundam em Portugal as mordomias dos parasitas dos diversos sistemas; o que ainda é mais grave num País iletrado que não conseguiu formar uma boa classe política. Uma das razões pelas quais temos maus políticos, deve-se ao facto de termos políticos a mais. De norte a sul, ainda mais no interior do que no litoral, temos Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais, Governos Civis, a paupérrima Assembleia da Republica e os gabinetes ministeriais ocupado por gente – boa parte dela honesta e bem-intencionada – com tremendos deficits de competência e preparação para a missão que lhes foi confiada; o panorama nas largas centenas de empresas públicas e municipais, destino dos reformados da política é confrangedor, para usar um eufemismo e evitar recordar os demasiados exemplos de sumptuosidade dos gastos de dinheiros públicos.
Por mais cruel que seja a frase, Portugal é um pequeno País de gente que apenas raramente foi grande; historicamente pouco culto e instruído, especializou-se na lusitana arte do “desenrascanço” para procurar suprir as carências de formação intelectual e cívica, a capacidade para se entregar a uma missão. Cultivamos a arte da pequena promiscuidade, do favorzinho, da generalizada “cunha”, da fuga aos impostos e da desesperada tentativa para procurar o caminho mais fácil e prazenteiro. Os nossos partidos e os nossos políticos, não são mais do que portugueses como todos nós, como eu ou como o meu leitor!
Se há característica que define a portugalidade é a ancestral tendência para nos encostarmos ao Estado, para viver de pequenas benesses e privilégios, a arte para confundir os interesses particulares com a gestão da coisa pública, demasiadas vezes usada para benefícios privados e públicas promiscuidades.
Inventar uma nova estrutura político-administrativa, engendrando-se alguns poderes e competências mitigadas, não serve nenhum dos interesses da nação, excepto o desemprego político, para incrementar ainda mais a teia de interdependências partidárias, fazer prosperar uma sedenta classe de burocratas sôfrega pelos seus pequenos poderes.
O pecado original de Sócrates foi não ter começado a arrumar as contas públicas cortando no obsceno número de assessores e adjuntos que vilipendiam o aparelho de estado nacional e local; o seu último pecado seria a regionalização, incrementando os gastos estéreis.
Mais. O ano de 2009 será um dos mais importantes anos das últimas décadas com consequências imprevisíveis: desviar as atenções para o casamento homossexual e para a regionalização é uma obscenidade política.

16 comentários:

  1. Anónimo00:15

    Boa crónica H

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  2. @ H: Sim eu quero regionalização!! E confesso não partilhar de tais motivações para se entender a necessidade de regionalizar. Se há coisas que estão mal, e estão, nem tudo pode ser culpa sempre dos mesmos. É urgente uma reflexão mais profunda. Nesta matéria discordamos, nos argumentos sobretudo, mas mantenho elevado respeito pela tua opinião e decisão.

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  3. Anónimo01:02

    Muito bem dito H.

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  4. @Jorge - Vou ser inequivocamente claro, como só o posso ser aqui no blogue!
    Perguntar se gosto de regionalização é como me perguntarem se gosto de sexo anal. E um tipo responde que sim! Depois, quando um tipo se apercebe, os Partidos legislam e descobrimos que afinal o sexo anal que nos oferecem é com homens e,.. iremos ser passivos!
    Se os Partidos querem a sério uma Regionalização, então façam algo ético: primeiro apresentem a lei, depois é que vamos a referendo! Cheques em branco a caciques, não, obrigado!
    Abraço

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  5. Anónimo09:52

    ..."uma necessidade das gulosas máquinas partidárias que encontrem naquela um expediente magnífico para encarreirar os seus dependentes"...

    Está tudo dito.

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  6. Anónimo15:31

    Gostava que demonstrasse como e em que medida a regionalização vai criar mais "tachos" políticos ou administrativos do que os que existem sem regionalização.
    Sem regionalização sabemos o que temos e o que vamos tendo cada vez mais - maior concentração de serviços nas maiores cidades, mais "tachos" políticos e administrativos sempre que é feita mais uma "reorganização" do que quer que seja, mais despesa pública, maior afastamento dos cidadãos do poder, ... Com a regionalização estou convencido que alguns destes males poderão ser reduzidos ou eliminados, através de uma maior racionalização da administração e maior controlo popular.
    Quanto ao que diz dos "políticos", que quanto a mim não constituem uma classe, porque se está na política, o que se poderia dizer de algumas corporações... Nos "políticos" é politicamente correcto malhar (para utilizar a expressão de Santos Silva) enquanto que nalguns sectores era, até há bem pouco, um "pecado"...

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  7. @LG - Um dos problemas é exactamente pretenderem (os partidos) discutir regionalização sem dizerem o que pretendem! (vide resposta ao Jorge, com data venia).
    Mas, mesmo assim, mesmo sem nos explicarem o que querem impor, posso demonstrar que vão aumentar o numero já exagerado de lugares partidários, nomeadamente nos órgãos que irão ser criados (que até pode passar por pequenos parlamentos, o que seria comovedor!)
    Mais! A regionalização que agora todos defendem vai aumentar a centralização de entidades públicas em Beja. Defendo a descentralização, tendo por base uma lógica distrital. Mais. A diminuição das entidades politico-administrativas, como defendi no artigo!
    Uma ultima nota: na sua geração os políticos não eram uma classe; mas hoje são: sabe melhor que eu a quantidade de pessoas que nunca na vida exerceu outra profissão que não a politica. Veja-se o PM e o delfim laranja, para deixar apenas dois exemplos de cúpulas!

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  8. Anónimo17:12

    capital em Evora já...lolll

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  9. @H: Meu caro, como sabes respeito a tua opinião. nem é minha intenção influenciar-te numa outra que é a minha. O que não concordo na tua análise são os argumentos, e essa tendência de resignação sobre o que os agentes políticos decidem impor. Concordo contigo quanto ao facto de ser importante esclarecer que regionalização, em que moldes, como, com quem. Mas essa missão não é só dos políticos. É tua, é minha, é de cada cidadão atento e interessado. Há formas de gerar uma participação activa. Mas também não concordo quando poes de parte a regionalização atribuindo culpas à divisão de "tachos". Parece-me redutor e desajustado do valor que a regionalização tem. E nisso concordo com o LG. Abraço

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  10. @Jorge e em certo sentido LG -
    Há dois pontos que nos distinguem: um é o facto de eu ser muito crítico das estruturas partidárias!
    Mas há um aspecto mais importante, uma diferença ideológica que nos separa: onde uns reclamam mais Estado, eu acho que há Estado a mais! E para quem pensa em que o Estado já é demasiado grande, é insustentável pensar em mais uma estrutura politico-administrativa.
    Mas.. também não pretendo mudar ninguém; sabes bem (Jorge) que lá por casa há quem pense diferente de mim!

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  11. @H: É exactamente isso: menos estado e mais poder democrático. menos estado e mais participação. menos estado e mais controlo popular. É exactamente isso que é a regionalização.

    Parece-me haver espaço e necessidade para debater tudo isto. E a tua opinião e visão são importantes.

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  12. Anónimo19:29

    O que é que tem contra os Partidos? quer tacho e nao lhe dao?

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  13. Anónimo22:31

    Esta conversa da regionalização dá-me vontade de rir!
    Tachos, panelas e afins sempre existiram, agora não regionalizar por causa dos lugarzinhos.
    Ainda ouço Manuel Alegre...."há medo no PS, porque se pode perder o tachinho de deputado, o tachinho na Câmara, bla, bla, bla...."
    Ouço Hugo Lança, algures, não há regionalização, fim de concelhos e freguesias, bla, bla, bla....
    Ora então Portugal é Lisboa.
    Pequeninos como somos, dependentes como somos, porque raio havemos de ser um País?
    Eu voto a favor da imediata integração em Espanha, que também pode ser integrada em França.
    Não brinquem com coisas sérias!

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  14. @anónimo - se eu quisesse tacho.. não escrevia as coisas que escrevo! Pode acusar-me de tudo... menos de falta de independência e de carneirismo...

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  15. Anónimo18:44

    Jorge Barnabé, parabéns pela sua verticalidade na Rádio Voz do Município, como diz o Hugo, sobre a regionalização, mas mais ainda sobre as posições de Pita Ameixa, o dono do PS de Beja, porque as verdadeiras bases, aqueles que distribuiam papéi e colavam cartazes, tipo Brigada Brenev no PCP, desapareceram do partido.
    Como Sócrates disse que ...... Ameixa veio dizer , qual boy ou yesman, que ......
    Estão a defender os seus interesses, não os de quem os elegem,mas de alguns interesses instalados na "família" socialista.
    Sbre a regionalização falta neste post um comentário do "independente", não o jornal, mas, o "ex-cola" Carlos e actual "cola" Jorge.

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  16. @ Anónimo: Agradeço as suas palavras simpáticas quanto à minha posição. Procuro manter a coerencia e as convicções. E reforço a vontade de defender o Baixo Alentejo.

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!