Já tinha dado mais de quatro voltas e não encontrava um buraco para enfiar a porcaria do carro; lá fora uma chuva miudinha teimava em não parar, insistindo em contar a toda a gente que o Verão era coisa do passado, gabando-se por ter a honra e inaugurar o Inverno!
Não é que eu tivesse pressa, mas isto de morar na província, rouba-nos o hábito de mendigar estacionamento, de rodar pelas mesmas patéticas ruas na esperança de um milagre na forma de um espaço!
Mas a noite estava enguiçada e não havia maneira de descobrir o desejado espaço para estacionar, logo eu que nem sou picuinhas com essas coisas das leis do trânsito!
A dado momento senti-me desesperar, confesso! A certa altura dei comigo a recordar uma ex-namorada, sentindo a falta dela: se ela ali estivesse, com aquela pequena vulva, onde no passado estacionava a pick-up com o atrelado da mota da água, teria resolvido o problema de arranjar espaço para o meu pequeno utilitário!
Foi nestas divagações que me cruzei com um casal daqueles que nos enternece o coração! Sim, porque eu sou um lamechas: por detrás deste corpinho de lutador de sumo, esconde-se um coração enternecido; quem me conhece, não ignora que choro com uma balada, fico lavado em lágrimas com uma comédia romântica, se vejo um reality show fico de coração partido, se vejo duas gajas boas a lamberem-se, cresce em mim uma enormeeee emoção! Mas, partilhava, que me comoveu a terna cena do casal, o pai puxando o filho contra o seu peito, protegendo-a da chuva da noite, com a esmerada mãe a tapar-lhe a pequena cabeça das intempéries da noite invernal. Comecei a esboçar um sorriso de contemplação e passava mesmo ao lado deles, quando ouvi as palavras ternas que não esqueço:
“- Foda-se que o caralho do puto não pára com os pés e já me sujou a merda das calças!”
Há algo mais afectuoso que o amor de pai?
Estás no bom caminho
ResponderEliminarO casal era nortenho...
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