segunda-feira, outubro 29, 2007

A minha cidade...

A foto foi oferecida pelo João Espinho, para ilustrar esta crónica, publicada na sexta no Correio Alentejo

Passeio pelas ruas da minha cidade e encontro uma cidade deserta, de pessoas e de alma. Sentados nas ombreiras das portas, velhos aguardam pacientemente que a morte lhes roube as tristezas, consumindo-se em doloroso sofrimento!
Na minha cidade, as ruas estão melancólicas e ariscas, repelem as pessoas; deambulo pela Praça da República, sinto nostalgia do antigo traçado, procuro pessoas mas não vejo absolutamente ninguém, apenas um mar de pedra fria! Corro para o centro e com a excepção do Luís da Rocha, apenas encontro a modernidade made in China, que paulatinamente expulsou para a reforma o comércio que nos habituámos a chamar tradicional.
As estradas da minha cidade, estão cobertas de imensos buracos, um traçado irregular que maltrata e humilha os carros, troça de pneus e amortecedores. Na cidade onde nasci, existe apenas um cinema, que passa sete vezes seguidas um único filme, sempre no mesmo horário, há uma peça de teatro apenas de quando em quando, uma exposição quando o rei faz anos, facto especialmente grave num Pais que é uma república!
Na cidade onde cresci, durante décadas sonhamos rezando com um Alqueva que salvasse a agricultura, com um aeroporto que maximizasse a excepcional estrutura construída pela força aérea alemã; mas o Alqueva apenas chegou quando a agricultura já tinha partido e do aeroporto apenas conhecemos o tempo perdido em fratricidas guerras umbilicais, enquanto nos céus, contemplamos os aviões que passam para outro destino qualquer!
Quando a noite chega sobre a minha cidade e quero levar amigos a deliciarem-se com a gastronomia alentejana, constato com dor que é cada vez mais complicado comer bem na nossa terra, sendo necessário ir às vilas e aldeias vizinhas, para se sentir o doce paladar da nossa comida quente.
Os prédios da minha terra, estão repletos de cor e de luz; em muitas janelas encontro placas coloridas de cores mil, gritando para toda a gente ler, que largas dezenas de casas procuram dono novo, sem que ninguém pareça comover-se com o amargo destino dos constrangidos vendedores.
Se tiver tempo e paciência, pode continuar a ler aqui!

7 comentários:

  1. Anónimo23:14

    Muito bem. Infelizmente é tudo verdade. E infelizmente isto é só o que se vê à primeira vista. Que pena!!!!

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  2. Anónimo23:30

    Já tinha lido no Jornal e estava muito boa! abraço
    PL

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  3. Anónimo02:06

    H ao ler este seu texto, extraordináriamente bem escrito,consegui sentir a imensa mágoa com que o escreveu. Nele está o retrato fidedigno do que é hoje a cidade de Beja. A NOSSA cidade. A cidade que tanto AMAMOS.Que nunca abandonámos.
    Uma terra onde as paredes brancas fazem contraste com o negro que nos vai na alma.

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  4. Anónimo23:11

    Caro H
    Tudo o que escreveste correesponde milimetricamente á realidade, por isso estou de malas aviadas para fora desta terra que maltrata os seus...Sou demasiado novo e a minha filha precisa de um local decente para crescer e estudar.Fiquem por cá com os "chicos" desta terra que assim vão longe.

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  5. Anónimo15:27

    H

    Infelizmente no nosso Alentejo, há mais, muito mais...cidades assim frias e distantes, onde nem sequer sabemos o nome do vizinho do lado!Onde a cada domingo, a cada feriado soleiro...não encontramos ninguém na rua!
    Beja não é a única...

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  6. Anónimo11:34

    Todos se queixam, todos reclamam, mas o que é certo é que o PC continua a ganhar todas as eleições. Onde está esta gente quando se tratar de meter o papelinho na urna ??

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  7. @anónimo 11.34 - é "carapuça" que não me serve! Já assumi inumeras vezes, que se o PC tem ganho várias eleições, teve mérito! Mas, os ultimos dois mandatos foram desastrosos! Já agora: é dos que concorda que se o PC a nível nacional não tem mais que 8/9% é porque não merece mais?

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