quinta-feira, novembro 27, 2008

Em defesa de Manuela Ferreira Leite (Crónica Rádio Pax)

Caso se consumasse a eventualidade pouco provável de Manuela Ferreira Leite ser o rosto do PSD nas próximas eleições legislativas, os laranjinhas arriscariam ter o seu pior resultado de sempre. Mas a suposição é fácil, porquanto não acredito que o PSD mantenha esta liderança durante o próximo ano: é um partido obcecado com o exercício do poder pelo poder e o seu enorme clientelismo não suportaria mais quatro anos longe dos gabinetes executivos, vendo outros terem as benesses que convictamente acreditam serem suas por direito próprio.
Quando há uns meses trinta e pouco por cento do Partido Social Democrata votou Ferreira Leite foi para mim óbvio que era minoritária no Partido uma determinada forma de estar na politica. E mesmo para os mais cépticos bastaram poucos meses para compreenderem que o estilo de Manuela Ferreira Leite jamais serviria para liderar o genuíno PSD, cuja única ideologia é ganhar eleições em Portugal.
Ferreira Leite é uma péssima comunicadora! Faz parte de uma geração em que a imagem era um acessório dispensável; tem uma péssima relação com as câmaras de televisão que, quando a focam de perto, sublinham-lhe as pesadas rugas, proibidas numa sociedade hedonística viciada em padrões jovens de beleza. Depois, o seu discurso oral deixa muitíssimo a desejar, faltando-lhe um pilar da comunicação dos tempos modernos: frases curtas, incisivas, que até podem ser vazias, mas repetidas ad nauseam, após sufragadas pelos assessores, para passarem nos noticiários e ser ouvidas pelo eleitor distraído.
Por outro lado, Ferreira Leite quis provar uma tese absurda: que era possível ganhar eleições em Portugal dizendo a verdade, apenas a verdade, toda a verdade. O que como todos sabemos é um imenso disparate! Para ganhar eleições há que prometer em campanha o que não se pode fazer; para ser reeleito, ir poupando alguns euros durante quatro anos, para depois aumentar os ordenados e baixar impostos no ultimo ano ou, no caso do poder local, fazer uns jardins e umas rotundas e depois umas festarolas para o povo, porquanto que por muito que mudem os tempos, continuamos aficionados por pão e circo!
Acho abominável e provinciano que se critique Ferreira Leite por um conjunto de gafes ou por dificuldades de comunicação, procurando empolar uma frase disparatada ao patamar de crime contra o Estado; avaliar Ferreira Leite é aquilatar das propostas que apresenta ao Pais. Ou, critica-la por não apresentar nenhuma séria e consistente…
Não que os portugueses tenham especial interesse por boas politicas e um pensamento credível e sério que devia nortear a escolha de um governante: este é um estranho país que não se governa nem se deixa governar! O que nós desejamos é uma espécie de líder sebastianista, que nos que nos diga “sim, somos capazes”, que nos faça sonhar e acreditar na ilusão de um futuro melhor, para deixar tudo exactamente na mesma, porque somos apaixonados por mudanças de 360 graus! E depois de alegremente iludidos, vamos passar mais quatro anos de desilusão em tristeza, dedicando-nos à ancestral arte do queixume.
Porque esta é a nossa sina. Porque este é o nosso fado…

1 comentário:

  1. Anónimo00:20

    Interessante análise.
    Infelizmente, tem alguma razão na caracterização que faz de nós, os portugueses...

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