100 razões para amar Beja - 21

Sou o primeiro a reconhecer que esta motivação é susceptível de causar perplexidade e de gerar opiniões contraditórias, mas sustento que esta é mais uma razão para amar a nossa cidade. Ofereço-vos hoje os vizinhos!
Tenho consciência que não serei a mais indicada pessoa para abordar o tema, porquanto na minha inusitada diáspora habitacional nunca penetrei na casa de nenhum vizinho; mas a minha timidez misantropa é apenas a excepção que reforça a regra.
Em Beja ainda há vizinhos, não apenas pessoas que moram na casa ao lado! Aqui ainda sabemos o nome das pessoas que habitam na nossa rua, podemos pedir açúcar quando se acaba o azeite, trocar palavras gentis no vão de escada, ter perto alguém que nos habituamos a chamar de amigo e onde os nossos filhos passam a tarde a brincar! Ou os despejamos durante a noite para poder ir ao cinema ou ao teatro!
Bem sei que a falta de anonimato, que o facto de quem mora ao nosso lado saber o nosso nome, a nossa história e o nosso presente, inventar o nosso futuro, as famosas conversas de porteiras – sem ofensa para estas, porque a vocação para a imbecil maledicência e a intromissão na vida alheia não escolhe profissões ou grau de instrução, sendo características dos fracos de carácter e pessoas ressabiadas – podem por vezes ser confrangedoras e fazer confundir virtudes com defeitos! Mas uma chuva em Agosto não deve fazer morrer o Verão: bem sei que por vezes nos esquecemos, mas é um privilégio quase raro viver numa cidade onde ainda temos vizinhos, pessoas que partilham e dividem connosco as idiossincrasias quotidianas, pequenos nadas, conversas de cortesia e frases soltas, ditas por pessoas que desde sempre se conhecem e que estão mesmo ali ao lado, para uma qualquer eventualidade. Porque mesmo que não seja preciso, é bom saber que há alguém ali ao lado a torcer por nós…