O incêndio que vitimou dois idosos esta semana, merece uns minutos de reflexão! Não para escalpelizar a tragédia, inventar culpados ou procurar ignorar que, por mais que tal prove a nossa impotência, as tragédias existem!
No momento em que escrevo estas linhas, desconheço quase em absoluto as causas do incêndio e as condições específicas das pessoas que foram devastadas por esta fatalidade! Mas o facto de mais uma vez envolver idosos, deve fazer-nos meditar no modo como tratamos os nossos “velhos”!
As melhorias no sistema de saúde, os avanços tecnológicos, um melhor acesso à higiene e alimentação, traduziram-se num impensável aumento da esperança média de vida; no entanto, as dificuldades económicas, fazem com que milhares dos nossos cidadãos mais idosos, continuem vivos mas impedidos de viver! Numa sociedade madrasta, em que se endeusa a beleza, a idade é vista como uma doença ruim, quiçá contagiosa, que olhamos ao longe com desdém!
A esmagadora maioria dos nossos idosos vive em condições inaceitáveis, em casas degradadas, sem as mínimas condições de conforto, muitas delas sem padrões básicos de higiene e segurança, esquecidos pelos familiares, desprotegidos pelo Estado e por Instituições cívicas, ou estão depositados em lares, que, se hoje em regra tem condições mais aceitáveis, estão despidos de afectos e com preços inacessíveis para a maioria das famílias e, ainda assim, em numero muitíssimo inferior às necessidades!
O desrespeito geracional pelos nossos idosos, não pode encontrar justificação bastante na complexidade da vida moderna, nos empregos sobrecarregados, no tamanho mais reduzido dos apartamentos, nas novas necessidades da sociedade de consumo e de todas as outras justificações hipócritas, com que procuramos escamotear o egoísmo de uma geração demasiado intrincada com o seu próprio umbigo!
Nesta reflexão, não cometo a insanidade de oferecer respostas; nem sequer as óbvias, tais como investir mais para facilitar a vida na velhice, reforçar a necessidade do estado central, câmaras, dioceses e ipss fazerem mais e um pouco melhor, reconstruir os centros da cidade oferecendo dignidade a um parque habitacional enfermo, criar benefícios fiscais e outros apoios financeiros às famílias que não desistem de manter na sua casa os seus idosos!
Nesta manhã quero apenas lembrar a quem me escuta, especialmente os mais jovens, que a forma como hoje tratarem os seus velhos é a forma como amanha os seus novos o vão tratar a si…
"O que nunca ninguém diz, porventura com medo de parecer vaidoso, é que a inteligência tem um preço: a solidão" (Nuno Lobo Antunes)
quinta-feira, abril 10, 2008
O incêndio e a velhice...
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O que me encanta neste blog é depois do texto de cima, aparecer este de imensa sensibilidade!
ResponderEliminarA sensabilidade que temos para questões como estas que apontas aqui neste excelente texto, tem muito a ver com a educação de cada um!...
ResponderEliminarPenso que na velha frase de Ghandi - um povo se conhece pela maneira de como trata os seus animais - se devia de acrescentar os idosos...
ResponderEliminarMas, neste caso, e acreditando nas conversas de café, até não eram idosos abandonados, e foi um "mero" descuido com uma braseira, para variar! O senhor estava acamado e não conseguia sair de casa, estava no 1º andar! Mas já ouvi outras versões do acontecimento!
Sensibilidade? Sensibilidade? Só se for no cu! Seu insensível do caralho! Aldrabão, nazi de merda! A criar fetiches com geriatria... és um porco do caralho, seu paneileiro do caralho!
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