quinta-feira, novembro 13, 2008

Em defesa da Ministra da Educação

Quando por duas vezes no mesmo ano, milhares de professores se deslocam a Lisboa para se manifestarem contra a Ministra da Educação, é bom senso reconhecer que a classe docente está genuinamente ofendida com a Ministra. Importa reconhecer que nos últimos anos os funcionários públicos foram os principais prejudicados na luta contra o famoso deficit e que algumas alterações legislativas defraudaram as legitimas expectativas destes profissionais, que se sentiram atacados em alegados direitos que pensavam adquiridos!
Por detrás destas mega manifestações, não estão apenas interesses políticos nem a sagacidade de sindicatos que pretendem nas ruas o que os seus partidos perderam nas urnas: esta luta tem na sua base o genuíno descontentamento da larga maioria de uma classe profissional, profundamente descontente com a Ministra. E com legitimas razões de queixa!
Assumido isto, faço-me a pergunta que muitos outros me fazem: porque insisto na defesa desta Ministra, criticada pela quase totalidade do País? Acredite, meu caro ouvinte, que não me move nem o espírito de contradição nem estou imbuído de vil teimosia!
Sou funcionário público e, como tal, faço parte daqueles cujas expectativas foram defraudadas nos últimos cinco anos: por dois anos não tive direito a aumento de vencimento e convivo desde há três com o estigma das carreiras congeladas, impedindo uma promoção que achava ter conquistado por direito e trabalho próprio! Mais. No caso específico do Ensino Superior, sofremos na pele a confusa implementação de um obscuro processo de Bolonha, misturado com sucessivos cortes orçamentais e sub-financiamento que estão a estrangular o funcionamento de Universidades e Politécnicos, com prejuízo de alunos e docentes. Pelo que fica exposto, se me limitar a olhar para o meu umbigo, tenho um imenso rol de razões para culpar este e o outro Governo!
Mas não acho que devemos limitar-nos a olhar para o nosso umbigo; cingindo-me à causa da educação, importa recordar que a primeira função da Ministra não é garantir os direitos dos professores, mas tutelar os interesses dos estudantes. Se insisto em defender a Ministra da Educação de um Governo que me tirou dinheiro do bolso, se cometo a blasfémia de afirmar que Maria de Lurdes Rodrigues é a melhor Ministra da Educação do Portugal democrático, deve-se ao facto de estar convicto que as suas principais bandeiras, são marcos de cidadania e vão mudar para muitíssimo melhor o ensino que se pratica hoje em Portugal: não ignoro que os professores não gostam, mas as aulas de substituição, a avaliação dos professores, as avaliações das escolas, a divisão da carreira, a estabilidade na carreira com contratos a 3 anos e as aulas com tempo integral, são medidas cruciais, ponderadas e muito necessárias!
Sou o primeiro a compreender que defender esta Ministra no actual contexto é uma enorme tolice: obviamente que nem a Ministra nem o seu partido me agradecem e as minhas posições melindram pessoas que estimo, professores que admiro, que se sentem ofendidos pela minha incompreensão, dos direitos de uma classe, da qual me sinto parte! Mas escolho não me calar: porque se a democracia é a vontade da maioria, isso não significa que todas as maiorias sejam donas da razão! E com magníficos professores que tive, que muito estimo e admiro, aprendi que colocar os meus interesses pessoais acima dos interesses gerais é um egoísmo inaceitável! E é em homenagem a estes professores, que me assumo contra a luta dos professores…

10 comentários:

  1. Não esperva outra sua posição.
    Faço aspas e saúdo

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  2. @capitão - Obrigado! Depois de tanta "pancada" o comentário sabe bem!

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  3. Anónimo19:50

    Talvez algumas das medidas que apontou não passem disso mesmo - de bandeiras -, e, mesmo que podendo ser "cruciais" e "muito necessárias" não me parece que tenham sido suficientemente "ponderadas", pelo menos, na forma como foram aplicadas.
    Ter 2/3 de um grupo profissional, ainda por cima professores, a mostrarem a sua indignação na rua, não é feito para qualquer um. Mas não me parece que honre a responsável. Aplicar medidas sem ou contra os principais intervenientes no processo não parece boa ideia.
    Apesar de admitir que as maiorias não têm sempre razão é muito difícil aceitar que 2/3 dos professores não têm as suas razões para se manifestarem o seu descontentamento. Andarão todos distraidos? Serão todos maus profissionais que não querem trabalhar nem ser avaliados? Estarão todos contra o governo e o PS? Se é assim é muito grave mais grave do que parece...

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  4. @LG - Como sustento na crónica, acho que os professores, têm razões de queixa. Só não acho, que as queixas dos professores, melhorem o ensino!

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  5. LG - A Ministra faz-me sempre recordar Leonor Beleza: esfolada viva enquanto ministra, para que, anos depois, muitos dos que a apedrejaram, reconhecerem que podia ter feito no SNS o que demorou vinte anos a ser feito!

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  6. Anónimo00:25

    O que não joga muito a seu (dela) favor.
    A classificação de Portugal em termos de sistema de saúde, hoje divulgada, mostra bem o que poderá acontecer na Educação daqui a "20 anos"...

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  7. LG - Leonor Beleza nada conseguiu fazer: foi boicotada por todos, até que teve de sair!!! Até os "genéricos" eram uma má ideia!

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  8. Anónimo20:02

    É preciso ponderar melhor algumas das nossas decisões e fundamentá-las com conhecimento de causa... Estimado colega, querido ex-aluno, analise com atenção o estatuto da carreira docente, Decreto-Lei 15/2007, o Decreto Regulamentar 2/2008, indague sobre as condições das escolas para aplicar esta legislação e mostre-me as artes mágicas para que se atinja esse ideal de avaliação. A avaliação é necessária? Sim! Não podemos ser ególatras? Não! E a prova de que 2/3 da classe se movimentou por razões muito válidas está nas medidas anunciadas pela Sra. Ministra, na passada 6ª feira. Contudo, o processo de avaliação dos docentes continua a apresentar muitas fragilidades e dificilmente conseguirá ser implementado... Vim espreitar o blog e não consegui deixar de escrever estas breves palavras, com a intenção de transmitir uma simples mensagem: prudência...Até breve. Encontrar-nos-emos, provavelmente, num qualquer restaurante desta cidade!

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  9. @anónima, mas pouco! Sabe bem a estima que lhe tenho! Não apenas admiração intelectual, como gratidão e, se me permite, amizade.
    Sempre admiti que a aplicação em concreto do modelo se tenha feito com enormes dislates. O que defendo é o princípio: uma avaliação séria, com consequências, que permita distinguir os excepcionais docentes, dos bons e mediados, dos medíocres. Tive professores de todas estas categorias, que ganhavam e progrediam da mesma maneira. Como, também tenho colegas assim..

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  10. Anónimo16:44

    É claro que a expressão «@anónima, mas pouco» me fez soltar uma gargalhada! No princípio que defende estamos inteiramente de acordo, caro amigo. Também eu acho que os laços de amizade permanecerão para sempre entre nós!

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!