sábado, abril 05, 2008

O rapto, por Paul Cézanne

Paul Cézanne não tem a biografia fatalista dos grandes nomes na pintura, o poético encanto de uma vida bem vivida na miséria, a podridão da interminável boémia!
Filho de um próspero banqueiro, viveu na opulência, frequentando as melhores escolas que o dinheiro pode comprar, abdicando de uma licenciatura em Direito que abandonou a meio, para se dedicar em exclusivo à pintura, a expensas do dinheiro paterno!
O pintor que dizia de si próprio, ser o primeiro de uma arte nova, foi percursor do cubismo, impressionando com o rigor geométrico, uma nova concepção de formas e as formas simples que oferecia aos seus quadros!
As eternas obras de Cézanne, são as naturezas mortas, onde melhor se consegue compreender toda a dimensão da sua arte: e seriam estas que deviam estar aqui representadas nesta noite! Mas assumo a minha fraqueza: por maior pureza técnica que as naturezas mortas ofereçam, não consigo ver mais que um bando de peças de fruta, despojadas numa bandeja!
Para esta noite, escolhi “o rapto”, obra do seu período romântico, quiçá o seu pior, mas de longe o meu predilecto, onde muito ao estilo de Delacroix, estão patentes elementos característicos da mitologia grega, mormente o rapto de Persefone.
Ao centro sobressai um Adónis Grego, de formas perfeitas de furtam o fôlego à mais casta das mulheres, que carrega nos braços uma mulher inerte, que se entrega, cansada de lutar contra a inevitabilidade! Ao largo, cores escuras, sombrias, medonhas, trevas que perderam a luz, o silencio ofegante das ninfas expectantes, que ali permanecem, quiçá por vontade, quiçá num limbo!
A mulher que se deixa carregar é raptada por sua própria vontade, pela sua ausência de vontade, mergulhando num mundo escuro, pecaminoso, porque, mesmo que não queira, não tem forças para escolher um outro caminho! Porque o abismo, tem uma irresistível atracção…

5 comentários:

  1. Anónimo13:01

    Sou frequentador do teu blog há já algum tempo, mas hoje inicio uma nova etapa de comentador.
    Nunca fui apreciador de pinturas, ou de obras de arte.
    Lembro-me muito bem de uma visita ao Louvre onde comecei a tentar apreciar os quadros, mas sinceramente foi uma grande seca, desisti e fiz uma visita generalista. Só parei mais a sério para ver a famosa Mona Lisa.
    Mas dá gosto ler os teus textos, ficamos com a sensação que também precebemos um pouco do assunto.
    Continua, vais no bom caminho.
    Um abraço.

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  2. Anónimo15:56

    Mais um texto espectacular...

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  3. Anónimo11:29

    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  4. Anónimo02:28

    Suas palavras nos levam não só a apreciação da arte,mas a sentir a arte o autor,ver com alma...

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  5. Muito Obrigado pelas suas simpáticas palavras

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!