sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Divagando sobre cheias...

Por estes dias as imagens das cheias, marcaram a semana. Mas não foram as cheias que vitimaram portugueses e que causaram prejuízos de difícil reparação, especialmente em famílias com parcos e miseráveis recursos!
Não se culpe a natureza pelas lágrimas e sangue que marcaram o inicio desta semana. O verdadeiro responsável é a irresponsabilidade portuguesa. Nas últimas quatro décadas as cidades cresceram de forma miserável, sem qualquer resquício de ordenamento de território, o triunfo do betão sobre a natureza, repetindo-se crimes ambientais, uma construção selvática em locais que não reuniam as condições mínimas; e não nos iludamos: o resultado não é apenas uma tragédia ambiental, como é uma fonte de erupção de enormes problemas sociais!
O que as televisões nos mostraram por estes dias, que repetem cenas que antes já vimos, é o produto de construções erráticas, despeito pelos cursos dos rios, edificações em locais proibidos, modificações irresponsáveis e criminosas nos PDM, a cedência aos grandes interesses, uma terrível política de financiamento das Autarquias, que permitiu criar um verdadeiro pânico urbanístico, do qual, nos anos vindouros, muito nos vamos arrepender!
Não se procure na minha palavra, porque não vão encontrar, o disco riscado das críticas ao capitalismo. Não é um sistema que eu goste, mas desconheço um melhor! Não sou daqueles que levanta a bandeira das desigualdades sociais e diaboliza as grandes empresas. Nunca esqueço que as grandes empresas já um dia foram pequenas, nem defendo que ser rico seja crime. Quero viver numa sociedade em que existam desigualdades, mas que todos tenham igualdade de oportunidades, possibilidade de terem acesso aos seus sonhos: não me chocam desigualdades, quando baseadas no esforço, no trabalho, no mérito, no Direito e na ética. Da mesma forma que me envergonha que continue a ser possível enriquecer à custa de ilegalidades e imoralidades, com conivências criminosas de poderes centrais e locais, em total desrespeito pelos mais básicos dos trabalhadores e dos cidadãos.
Gostaria de terminar com uma nota de optimismo, acreditando que as mortes desta semana pudessem agitar consciências. Mas não estou optimista: a chuva, por mais agua que seja, não lava a falta de vergonha…

2 comentários:

  1. De facto, todos os anos é mais do mesmo. Mas isso vem de muito antes, já que na antiguidade as populações cresciam sempre perto dos fios de água. Hoje, porém, isso já não é desculpa...

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  2. Concordo plenamente. Esta semana, as consciências andam agitadas, mas verás que na próxima semana já não é noticia. Aqui em Beja, ainda gostava de perceber como deixaram construir um predio em cima de um aquifero - junto ao poço largo, frente à expobeja - Quem não compraria um apartamento lá era eu! Espero não ter razão daqui a alguns anos....

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!