O facto de ter 33 anos e de por razoes profissionais estar muito ligado a jovens, nomeadamente na sua passagem da adolescência para a idade adulta, poderia dar-me um conhecimento privilegiado! Por outro lado, mesmo os muitos que discordam das coisas que acredito e defendo, reconhecem que sou razoavelmente bem informado sobre a cidade onde nasci e teimo em continuar a viver.
Serve o presente intróito, com o qual desperto o ouvinte nesta gélida manhã de Dezembro com cheiro a Natal, para falar do tema que domina as conversas de toda a cidade. Não para dissecar os factos em concreto: não sou apreciador de conversas de porteira e por imperativos profissionais confio nos tribunais e acho que é a estes que compete apurar a verdade material. No caso específico do Tribunal Judicial de Beja sei de ciência certa que é composto por um brilhante leque de profissionais, que terão a sapiência para aplicar Direito ao caso concreto, condenando na pena que for mais justa!
A reflexão que partilho consigo nesta manhã é a de uma cidade que nasce quando o Sol se põe, uma cidade habitada por criaturas, tal qual como qualquer um de nós, com comportamentos que pensamos que apenas existem nos romances e novelas, uma cidade que a esmagadora maioria dos bejenses desconhece.
Não procurem nestas linhas a diabolização da noite e dos espaços nocturnos: culpar os bares é tão absurdo como sustentar que por existirem claques violentas se deve acabar com o futebol. Obviamente que a noite propicia os excessos, catalisa a propensão para os dislates! Os jovens de hoje, como os homens de ontem, bebem excessivamente, tomam substâncias ilícitas, vivem sofregamente como se aquela fosse a última noite das suas vidas, têm comportamentos sexuais nem sempre responsáveis, conduzem embriagados e praticam toda uma enorme diversidade de tolices. Mas, por mais que sejam duras estas palavras, todas essas asneiras são etapas do crescimento, porque a maturidade bebe dos nossos erros e fazer no momento certo os pequenos disparates próprios de cada idade, tem a utilidade de formar adultos mais resistentes e responsáveis, com menor apetência para cometerem despautérios numa idade onde se exige uma maior rectidão de comportamentos.
Mas não é de essa Beja que falo. Falo hoje de uma cidade de Beja que desconheço, que o meu ouvinte estava convicto que não existia: uma Beja que dorme de dia, que desperta de noite, repleta de grandes excessos, de imensos e perigosos disparates, de comportamentos desviantes, onde a diferença de classes se faz entre consumidores de heroína ou cocaína, onde passeiam armas e cães que são usados como revolveres, uma cidade que não dorme nem deixa dormir! Uma cidade onde demasiadas pessoas não trabalham nem estudam, que vivem na dependência de subsídios do Estado ou da mesada dos pais, que abdicaram de sonhar, de confiar no futuro, entregando-se sofregamente ao próximo prazer. Mesmo que o próximo prazer seja o ultimo…
Serve o presente intróito, com o qual desperto o ouvinte nesta gélida manhã de Dezembro com cheiro a Natal, para falar do tema que domina as conversas de toda a cidade. Não para dissecar os factos em concreto: não sou apreciador de conversas de porteira e por imperativos profissionais confio nos tribunais e acho que é a estes que compete apurar a verdade material. No caso específico do Tribunal Judicial de Beja sei de ciência certa que é composto por um brilhante leque de profissionais, que terão a sapiência para aplicar Direito ao caso concreto, condenando na pena que for mais justa!
A reflexão que partilho consigo nesta manhã é a de uma cidade que nasce quando o Sol se põe, uma cidade habitada por criaturas, tal qual como qualquer um de nós, com comportamentos que pensamos que apenas existem nos romances e novelas, uma cidade que a esmagadora maioria dos bejenses desconhece.
Não procurem nestas linhas a diabolização da noite e dos espaços nocturnos: culpar os bares é tão absurdo como sustentar que por existirem claques violentas se deve acabar com o futebol. Obviamente que a noite propicia os excessos, catalisa a propensão para os dislates! Os jovens de hoje, como os homens de ontem, bebem excessivamente, tomam substâncias ilícitas, vivem sofregamente como se aquela fosse a última noite das suas vidas, têm comportamentos sexuais nem sempre responsáveis, conduzem embriagados e praticam toda uma enorme diversidade de tolices. Mas, por mais que sejam duras estas palavras, todas essas asneiras são etapas do crescimento, porque a maturidade bebe dos nossos erros e fazer no momento certo os pequenos disparates próprios de cada idade, tem a utilidade de formar adultos mais resistentes e responsáveis, com menor apetência para cometerem despautérios numa idade onde se exige uma maior rectidão de comportamentos.
Mas não é de essa Beja que falo. Falo hoje de uma cidade de Beja que desconheço, que o meu ouvinte estava convicto que não existia: uma Beja que dorme de dia, que desperta de noite, repleta de grandes excessos, de imensos e perigosos disparates, de comportamentos desviantes, onde a diferença de classes se faz entre consumidores de heroína ou cocaína, onde passeiam armas e cães que são usados como revolveres, uma cidade que não dorme nem deixa dormir! Uma cidade onde demasiadas pessoas não trabalham nem estudam, que vivem na dependência de subsídios do Estado ou da mesada dos pais, que abdicaram de sonhar, de confiar no futuro, entregando-se sofregamente ao próximo prazer. Mesmo que o próximo prazer seja o ultimo…
H, pensava eu que esta Beja que refere não existia...pensava mesmo...até ao dia em que, tambem por razões profissionais, comecei a conviver mais de perto com jovens que o maior prazer que têm na vida é viver á margem da lei. Odeiam policias ( tenho um módulo sobre a importância dos profissionais de segurança pública que honestamente não sei como o começar), detestam professores e formadores, não sabem respeitar as opiniões que não sejam iguais ás suas, chegam todas as manhãs atrasados porque estiveram na noite, fumam charros á porta da escola com a maior descontração...enfim um terror que eu pensava não existir em Beja... um terror que enfrento todos os dias, que me cansa, que me desmotiva...
ResponderEliminarProvavelmente a sua melhor crónica! dura, mas muito verdadeira!
ResponderEliminarJL
olá, gostei muito do texto.
ResponderEliminarSão os novos tempos, meu caro - e, qualquer pai terá que ter cuidado que o seu filho não caia nesse tipo de vida!
ResponderEliminarTambém já fui jovem, também passei por grandes dificuldades "morais" (fiquei sem mãe aos 16 anos...) e sei perfeitamente como é fácil "descair". Claro que os tempos e os meios nos anos 70 eram diferentes, não havia tantas "tentações" de rua como hoje. Mas, muitos colegas de escola de então cairam nesse tipo de vida, estão presos, vivem da ajuda social ou ainda pior...um, que até nasceu no mesmo dia que eu (...) acabou como pedinte de rua e num inverno desses foi encontrado morto por baixo de uma ponte...
Declaração de interesses: Ligam-me laços de amizade e de familia muitos antigos á familia do presumivel homicida. No entanto, isso não me pode levar a olhar para este acto tresloucado e inominável, na sua violência, como se de um "fairs divers" se tratasse.Foi uma vida humana que se apagou, com o cotejo de dor e sofrimento que podemos imaginar. Mas esse facto também não nos pode fazer esquecer que, tal como nos diz Ortega e Gassett, um homem é ele e as suas circunstâncias. E esse jovem para ser devidamente julgado, é preciso que se tenha em conta as circunstâncias em que cometeu o crime. Talvez a compra da pistola tenha sido o acto mais deplorável.Comprar uma pistola para quê? Quantos de nós, em determinadas circunstâncias, se tivessemos uma pistola no bolso, teríamos feito merda? O melhor é ter um fueiro ou apenas as mãos.Assim, mesmo que a violência seja igual, o resultado raramente é irremediável.Fiz-me entender? M&M
ResponderEliminar@olá Isa. E obrigado!
ResponderEliminarBelíssimo texto!
ResponderEliminarCaro Hugo,
ResponderEliminarAdoptei esta cidade como 'minha' há pouco mais de 3 anos.
Além de motivos familiares, apostei num conceito de qualidade de vida que também passava pela pacatez, segurança e bem viver que caracterizava, a meu ver, esta cidade.
Na leitura do seu texto vejo reflectido muito da minha opinião actual.
Obrigado por partilhar as suas ideias e pelo excelente texto.
Sérgio Cortes
"A Beja que dorme de dia e acorda de noite" é uma realidade que muitos desconhecem e outros preferem ignorar... Por norma é mais cómodo ignorar o que não nos agrada dos que confrontarmo-nos com a realidade...
ResponderEliminarNo entanto, a vida de dormir de dia e acordar de noite, é uma opção tomada por muito boa gente, que continua encostada a familiares ou subsidios de desemprego... Outros... enfim, outros simplesmente têm dificuldade em atingir o que querem e refugiam-se na noite para esquecer...
Com efeito, um texto deveras actual, pertinente e que coloca a nú muitas das situações que nesta cidade sucedem diaria e frequentemente.
ResponderEliminarViver no interior é inumeras vezes apontado como sendo uma situação de abandono por parte do Estado, motivo pelo qual certas situações limites se poderiam tornar mais compreensiveis.
Porém, não posso considerar que tal seja assim. Viver em Beja (ou noutra qualquer cidade similar em termos de espaço e tempo), desde que dadas as devidas possibilidades, deveria ser sinonimo de uma maior qualidade de vida, algo que, comparativamente a lx, seria de encarar como 1 privilegio.
Todavia, Beja faz parte deste nosso portugalinho e é habitada pelos alguns dos mesmos portuguesinhos que preferem sobreviver mediante rendimentos sociais de inserçao ou quaisquer outros tipos de subsidios sociais (ou não,como por exemplo os subsídios comunitários à agricultura), os quais cumulam com expedientes mais ou menos ilicitos. Como é bom de ver, tudo isto é potenciado pela tenra idade de muitos jovens protagonistas, cuja falta de estudos, de exemplos parentais capazes e toda uma cultura de facilitismo instituida pelo próprio Estado, serão sinonimia de uma cultura de facilitismo que dispensa ambição e acreditar em si próprio.
Beja neste momento é reflexo de toda uma nação que se encontra doente. Esta doença reflecte-se não só na tao propalada crise economica que o mundo, a europa e o país atravessa, como também e o que talvez seja mais gravoso, o desistir da população portuguesa de ambicionar um mais e melhor futuro.
Julgo que se um dos indicadores mais fiáveis da evolução de um país é o da educação, Portugal está neste momento a atravessar uma mui séria crise, em que poderemos ter alguns consideráveis resultados estatísticos em termos europeus mas que, quando aquilatados acerca do seu real resultado, deixam muito muito muito a desejar.
Os eventos do fds passado deixaram-me triste, talvez não muito surpreendido, julgo mesmo que seria inexoravelmente de esperar que algo deste género viesse a ocorrer mas não consigo deixar de olhar para todo o desmoronar de um sistema, que ao ter por base alguns destes aspectos supra referidos, penso não ter muito mais futuro.
Talvez não seja a melhor das comparações mas o cumular destas situações que tem vindo a suceder no país, poderá pressagiar uma situação maior de revolta contra o status quo vigente em nosso redor..
JH
O H como normal, tirando os devaneios porno eróticos que devia utilizar para reeditar a saudosa revista Gina com roupagens sec. XXI, escreveu bem.
ResponderEliminarNo entanto, quem vive nesta cidade e já pode viver noutras, sabe que mesmo com este tipo de problemas que apenas reflectem um pouco a actualidade do país, Beja é das cidades mais seguras para se viver. Sempre existiram tiroteios em Beja, sempre existiram grupos identificados ou não dedicados a actividades nocturnas mais ou menos legais com todos os atritos que esse tipo de vida causa.
Não me parece casos pontuais venham alterar em muito a pacatez desta vila, existem muitas mais situações que justificariam uma ruptura mais ou menos violenta, o que demonstraria de forma muito mais evidente as problemáticas da sociedade actual reflectidas neste burgo do que um tiroteio à porta de um bar por causa de uma rixa com contornos, provavelmente, ainda por apurar.
Assim, esta cidade, não está muito longe do que era mas talvez esteja ainda longe do que será. Com a falta de cultura de responsabilização, a falta de respeito para com quem não se dá ao respeito a evolução da cidade e do tecido social dificilmente será para melhor.
Não culpemos os subsidios 'generosos' e os rendimentos de reinserção, embora, admito, me custe ver certas gentes a deambular pela sociedade vivendo desses expedientes alimentando economias paralelas.
O problema reside na falta de ocupação das pessoas em áreas que lhes permitam sustentarse e esta cidade cada vez tem mais 'desocupados'.
X - Duas breves notas para esclarecer o sentido das minhas palavras; falei em Beja, porque este é um blogue assumidamente bejense: concordo que o mesmo se passe em todas as cidades de Portugal! Sobre os subsídios, não os culpei, tanto que penso o mesmo das mesadas: a tónica é mesmo a desocupação!
ResponderEliminarAdorei este texto, tal como os comentários que faz às pessoas mais "distraídas" nas suas palavras.
ResponderEliminarÉ bom haver na nossa cidade uma pessoa assim, "sem pápas na língua".
Admiro-o pelo que escreve e por tudo aquilo que nos transmite, alunos hoje... profissionais amanhã!
Lily
Obrigado, Lily!
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