Não sou ingénuo ao ponto de desconhecer que uma proposta como a que hoje subscrevo pode levantar celeuma e receba bem mais criticas do que um ou outro tímido aplauso! Mas faço-a, por corresponder a um imperativo de consciência!
Por estes dias, regressei ao Mercado Municipal de Beja e foi com nostalgia recordei a glória do passado, quando na minha meninice acompanhava o meu pai percorrendo a azáfama dos corredores, onde a melhor fruta namorava o bom queijo e pão, bolinhos ainda quentes, os talhantes na época endinheirados, a zona do peixe fresco, para onde corria para receber um fraternal beijo do meu tio! Confesso que me chocou a degradação, o desprezo e a tristeza que encontrei naquele inóspito espaço, esquecido pelos poderes regionais, abandonado pelos munícipes!
Sem hipocrisias fáceis, não junto a minha voz aos que criticam a Câmara Municipal de Beja pela vergonha em que se tornou o Mercado! É certo que se nos anos que passaram não tivesse existido uma vergonhosa politica permissiva sobre a instalação de grandes superfícies dentro da cidade, o mercado municipal podia não ter chegado tão rapidamente à miserável situação em que se encontra! Mas … não gosto de viver no mundo dos “ses”. A verdade é que quando toda a sociedade muda, a cidade não pode ficar na mesma. Mesmo com as necessárias obras, mesmo que se inventasse um bom estacionamento (embora, a percepção que tenho é de que este é hoje um falso problema, porque nas traseiras do mercado abundam lugares vagos), mesmo com horários decentes, mesmo com a inteligente medida de colocar no piso superior do mercado um supermercado que poderia funcionar como loja âncora, o mercado está condenado! Já não vivemos no tempo em que as mulheres eram apenas donas de casa, em que as compras se faziam diariamente, em que os pequenos produtores comerciantes tinham preços apelativos aos consumidores! Por maior que seja a mágoa que cause aos nostálgicos e aos saudosistas - grupo que não tenho pudor em incluir-me - vivemos na era dos grandes hipermercados, das Asae e do fast-food, um tempo em que a qualidade se mede pelo preço e comodidade, dos alimentos congelados, na geração dos centros comerciais e do micro-ondas…
Por tudo e por muito mais que a brevidade do tempo não permite aqui desenvolver, é um momento de encararmos a realidade sem falsos pudores ou preconceitos, enfrentando a realidade nas suas verdadeiras cores: amar o Mercado Municipal de Beja é compreender que o seu tempo passou, que esse tempo não volta mais, resolver os problemas específicos dos comerciantes que teimosamente insistiram em ficar e assumir a necessidade de fechar o mercado, deixando-o falecer com dignidade, não perpetuando esta morte cruel e lenta!
"O que nunca ninguém diz, porventura com medo de parecer vaidoso, é que a inteligência tem um preço: a solidão" (Nuno Lobo Antunes)
sexta-feira, março 07, 2008
Mercado Municipal de Beja
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Já tinha ouvido ontem e confesso que me custou! Mas.. admito que tenha alguma razão!
ResponderEliminarSe todos tiverem esta mesma preocupação, garantidamente o mercado municipal pode voltar a viver melhores dias.
ResponderEliminarEu cá compro bastantes coisas neste espaço, e garanto-vos que em geral os produtos são muito, mas muito melhores de que qq superficie comercial em Beja.
Mas atenção, o que é bom é sempre mais caro!...
Não sendo de Beja, gosto de mercados e do cheiro único que por lá se inala (tb tive meninice e uma avó que ía todos os sábados de madrugada à fruta). Cada vez que lá passo, prometo a mim mesma que na manhã seguinte vou à fruta. E a verdade é que nunca cumpri. Por mais que doa e custe, o tempo da cesta de verga já lá vai... resta-nos a esperança que daqui por uns tempos vendam o odor em garrafas modernas e com um nome sugestivo...
ResponderEliminar@moi chéri: deixo uma confidência! Quando viajo, faço questão de ir aos Mercados: o local onde melhor se compreende a cultura de um povo! Quiçá o de BEja, tb diga demasiado da nossa...
ResponderEliminarBem, e desculpa para contrapôr um pouco a tua nostalgia, sabes bem qual era a fama deste mercado para os alemães. É que, da primeira e única (!) vez que lá meti os pés (de alemanito inocente), há uns bons 24 anos, fui redondamente enganado que andei durante vários dias de lado...
ResponderEliminarNo entanto, dou-te toda a razão. Este espaço merecia ser melhor utilizado, mas os tempos são outros!
A ideia do Mercado fechar é assustadora; mas, é com pena que lhe reconheço ALGUMA razão!
ResponderEliminarPL
Também me recordo dos tempos aureos do mercado municipal, mas esse tempo não voltará mais. Aos sábados ainda gosto de ir ao "mercado" comprar coisas que preciso, que confio, e onde conheço as pessoas.
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