sábado, março 08, 2008

Nascimento de Vénus, por Sandro Botticelli

Porque estas linhas são traçadas a escassos instantes do Dia Internacional da Mulher (independente da convicção deste escriba sobre a utilidade destes dias), deixo-me perder no rebanho das redundâncias e junto a minha prosa à efeméride.
Em tons de homenagem à condição feminina, escolhi Sandro Botticelli, o genial pintor do Renascimento, provavelmente a época histórica que mais me fascina!
Mas centremo-nos no Nascimento de Vénus, um quadro fabuloso, não apenas na sua estética visível, como na riquíssima simbologia que o Botticelli espalhou por toda a tela, quase um jogo criptográfico, com significados nem sempre aparentes, como que construindo um complexo jogo de codificação!
Botticelli oferece-nos a divindade Vénus, a deusa que mistifica o amor e a beleza, o culto do amor pelo belo, cuidadosamente delineada com os traços que caracterizavam o ideal do fascínio feminino, com longa melena, (in casu exageradamente longa para cobrir a vulva) coxas largas em pequenos seios, que o pintor desnudou de roupa e de erotismo, não apelando ao amor carnal, antes em veneração ao amor espiritual, um tributo a uma paixão platónica consumada!
Como na mitologia romana, Vénus desabrocha de uma concha, que foi fecundada pela espuma do intenso mar azul, para nascer mulher, empurrada por dois enamorados enlaçados que lhe sopram os ventos quentes D`oeste, arrastando-a suavemente para a margem onde a espera um manto de flores.
Convido o meu leitor ou, porque hoje me é permitido, escrevo ao ouvido da minha leitora, para lhe pedir um olhar, para um pormenor da pintura que nem sempre é referido nos tratados escritos por especialistas do mais alto coturno: antes, recordo a minha paciente amiga, que Vénus era a uma Deusa, uma Deusa que personificava a beleza, o ideal de estética feminino, que embalada em ventos quentes, é aguardada em terra por uma plebeia que lhe oferece um manto quente bordado com as mais finas flores, no traço esbelto de um genial pintor, que viveu na mais fascinante cidade do mundo! Reparou no rosto da musa? Centre-se no olhar triste que se perde com tristeza no horizonte! Quiçá nos queira recordar, que a beleza exterior, a fortuna, a comodidade são patéticas e tristes, lembrando-nos que a vida se constrói com outros princípios e valores!

Post Scriptum: porque até os “h” deste mundo são filhos de uma mãe e tios de princesas, fica a singela homenagem para o que a vida tem de melhor…

3 comentários:

  1. Anónimo01:14

    Excepcional!

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  2. De arte pouco ou nada percebo… mas o desafio que lanças é aliciante. Aqui vai…
    Apesar de a esperar um manto quente… algo a espera para a tapar, ocultar o seu ser… A tristeza de Vénus, encaro-a como o reflexo de ser impedida de mostrar o seu ser, não o seu ser exterior, porque Vénus considerava que o seu corpo era o trapo que cobria a alma… Essa sim era um bem demasiado precioso para andar aos olhos de todos os ignorantes e famintos de alma fortes para se poderem alimentar…

    Os enamorados não a arrastam suavemente para a margem com ventos quentes do Oeste… Empurram-na, por não suportarem o seu ser… A inveja faz correr um vento gelado… que por sua vez leva a plebeia a transportar consigo um manto quente… Mas ao deparar-se com tamanha beleza… algo fez com que ela se apressasse a ocultá-la… talvez para a proteger… talvez simplesmente a inveja de tamanha beleza…

    Eventualmente… Vénus podia ser a primeira a não se sentir feliz com o facto de ser considerada o ideal de beleza feminina…

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  3. @babe - excelente...

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!