Apesar de as Janelas de Maluda me fazerem repristinar aos mais felizes momentos da meninice, cometo a inconfidência de confessar que não sou apreciador da obra de Maluda. Assumo a blasfémia, admito que a artista possa ter a excelência que a boa crítica lhe sublinha, que merece os prémios e honrarias que a vida lhe deu, pelo que será culpa minha não conseguir apreciar a sua arte! Feita a introdução, será justo o meu paciente leitor, perguntar-me porque destaco uma serigrafia que não aprecio!
Uma primeira resposta, será um tributo à artista, uma das grandes portuguesas do século XX, uma mulher que venceu os estereótipos de uma sociedade obtusa, que teve a coragem de ser autentica, de entrar num universo masculino e burlesco das tertúlias, partilhando a mesa do café O Botequim com a poetisa Natália Correia e a diva Amália Rodrigues!
Maluda era uma operária da arte, que desconfiava da inspiração, apenas confiando no trabalho árduo, exercendo a sua arte como um ofício, em tardes de sacrifício que apenas terminavam quando se acendiam as luzes da noite, prazer que nunca deixou de cultivar.
Escolhi quase ao acaso uma das suas janelas; numa semana encerrado em casa, exercitei o meu fascínio pelas janelas, as cortinas que dividem o público do privado! Não encontro nas janelas, apenas uma forma de olhar o exterior, de deixar que a vida lá fora penetre na nossa intimidade, de escondido no breu da escuridão coscuvilhar as vidas dos outros, como as velhas de todas as idades, que encontram no prazer de amesquinhar os outros o antídoto para as suas frustrações!
O que me encanta nas janelas, não são o que elas mostram, mas o que escondem! Uma fachada que separa o nosso mundo dos outros, o véu que esconde o mais íntimo de nós, pequenas parcelas da nossa idiossincrasia que gostamos de esconder mesmo de nós mesmos! Sim, porque todos nós temos as nossas janelas, onde escondemos os nossos segredos, entreabrimos para aqueles que penetram a nossa intimidade, que fechamos para o mundo lá fora, bem cientes que há sempre alguém, que escondido na penumbra, fantasia sobre o que se passa por detrás das cortinas….
"O que nunca ninguém diz, porventura com medo de parecer vaidoso, é que a inteligência tem um preço: a solidão" (Nuno Lobo Antunes)
sábado, março 01, 2008
Janela, Maluda...
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Olá, em primeiro lugar quero agradecer a visita, aliás foi uma forma de vir a conhecer este blog. Ainda só li este texto e não por também ser apreciadora de janelas, mais do que da Maluda, mas por ver que sabias escrever, vou ler mais alguns textos.
ResponderEliminarbeijos
Também não me encanta o quadro, mas o seu texto está uma obra de arte!
ResponderEliminarH » Antes de mais desculpa pela falta de assiduidade. Tenho andado um pouco ocupado.
ResponderEliminarSabes ainda me lembro de ver estes quadros numa casa muito acolhedora em Beja, tem a ver com infâncias. É sempre bonito lembrarmo-nos do que é bonito.
Pessoalmente até gosto destes quadros, os quais também fizeram parte da minha adolescência, estavam pendurados alguns numa casa em Algès. Como há pouco, é sempre bonito lembrarmo-nos do que é bonito.
Agora um elogio, não tenho tido muita coragem de comentar estes teus textos, pois trazem sempre muita mensagem. Contudo estás de parabéns, pois orgulho-me do meumenino ter desenvolvido com tamanha grandeza o dom da comunicação e escrita.
Espero que estejas bem melhor da doença, já agora segue a opinião enviada e informa-te sobre o Japonês.
Espero que te andes a alimentar bem!...
Mais um belíssimo post!!
ResponderEliminarBom fim-de-semana!
se ainda vou a tempo de um comentário...
ResponderEliminartem toda a razão quanto à personagem da Maluda; em relação a essa janela, convido-o a ver uma reprodução mais decente: http://maludablog.umnomundo.eu/?p=499
o resto está tudo em www.maluda.eu