sábado, março 22, 2008

O quadro em branco...

Naquela que poderá ser a ultima semana a comentar quadros, escolhi para este Sábado um quadro em branco: uma tela desnuda!
Num primeiro olhar a minha escolha pode ser um insano absurdo! Sou mesmo constrangido a admito, que depois de vários olhares, continue a ser uma decisão tola. Mas interpretar um quadro em branco pareceu-me um desafio irresistível!
Quando um leigo contempla um quadro e mergulha numa missão interpretativa, procura absorver aquilo que o artista ofereceu à tela! Mas, não serão todos os quadros das nossas vidas uma imensa tela branca, nas quais juntamos as cores e os tons que ficcionamos na nossa imaginação?
Gosto de admirar quadros com a mesma contemplação aprecio uma mulher! Deleito-me a tentar interpreta-los, da mesma forma que tentamos descobrir o lado mais oculto das pessoas que se cruzam pelas nossas vidas, os traços mais íntimos, peculiares, mergulhar no conhecimento dos pequenos defeitos que tornam as pessoas únicas, que nos fazem maravilhar, não com as suas falhas e carências, mas porque têm falhas e carências!
Tal como o pintor que desenha as suas ideias na tela branca, também os enamorados pintam com as suas próprias cores as suas divas, desenham-lhe tons e traços que apenas existem na ternura de um olhar, interpretam pequenos gestos, ligeiros nadas, com a grandiosidade que apenas os apaixonados conhecem!
Quantas vezes nos cruzamos com um quadro com despudor e indiferença, com o desdém dos apressados, vendo-o sem o olhar? E um dia, num qualquer momento, oferecemos-lhe tempo, dedicamos a uma tela um pouco da nossa atenção, desvendamos imagens, fantasiamos o traço, encontramos cores e sentidos que nunca tínhamos contemplado, tornando um quadro banal numa obra irresistível!
Tal como uma mulher, não acredito na beleza objectiva de um quadro! São apenas cores misturadas distribuídas com mais ou menores requinte; a intrínseca beleza de um quadro é-lhe exterior, existindo nos olhos e na imaginação de quem o lê, na sua capacidade de surpreender e encantar quem o olha, de marcar momentos nas memórias das nossas vidas! Tal como as pessoas, também a beleza de uma pintura depende do dia, do ângulo, da disposição, do passado e do momento em que a admiramos, sendo que o encantamento resulta de uma soma de pequenas coisas que fogem à razão!
Confesso-me apaixonado pela tela branca: faz-me recordar que cada um de nós pode preencher os buracos da vida com as cores que escolher, com a textura que lhe aprouver, construir a sua história, revisitar o seu futuro, recriando cada momento, tendo como único limite a moldura da sua imaginação, as cores com que tem coragem de sonhar…

6 comentários:

  1. Anónimo00:41

    H, está simplesmente fabuloso este texto!

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  2. concordo com o anónimo.
    está de facto muito bonito. e a tela branca é sempre um espaço para se colocar o que lá se quiser colocar... é um espaço livre, que nos dá a nós a liberdade de escolher o que lá queremos ver.

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  3. Anónimo13:06

    E se o quadro fosse em preto?

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  4. parece-me que o que quer que se colocasse, teria sempre um lado mais... noir?!

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  5. @anónimo - também seria um desafio interessante!

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  6. Anónimo16:40

    H, espero bem que não seja o ultimo! É um vício "ler" os seus quadros!

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Respeite as opiniões contrárias! Se todos tivéssemos o mesmo gosto, andávamos todos atrás da sua namorada! Ou numa noite de copos, a perseguir a sua mulher!