sexta-feira, junho 04, 2010

No sítio das pessoas felizes...

Há um restaurante que baptizei como o sítio das pessoas felizes. Tudo começou numa noite tórrida de Agosto, salvo erro no finalzinho de um Julho quente, quando passeava por ruas geométricas e fui atraído pelo ruído de uma música de baile de casamento de aldeia pobre, assustadoramente terno, onde velhos e velhas felizes cantavam em coro entre sorrisos desdentados felizes.
O restaurante é uma tasca rasca, onde se come peixe de gente pobre, a preços meiguinhos, sem charme ou requinte, mas com uma qualidade notável. Fui deliciar-me com sardinhas assadas e uma salada feita com vegetais verdadeiros, sentei-me ao canto, tendo no mão o livro que fingia ler e nos ouvidos os phones do telemóvel, comprados ao indiano.
Olhei para os rostos cansados daquelas pessoas humildes e vi sorrisos de gente feliz! Naqueles traços vincados, não encontrei as rugas do deficit orçamental ou dos planos de austeridade, não se discutia como travar o desemprego ou a regulação do capitalismo, nem sequer as lacunas culturais ou os ordenados obscenos de idiotas partidários! No sítio das pessoas felizes, gente sofrida, que carrega escondida as dores e penso de uma vida, comiam sardinhas e carapaus, com vinho barato e sorrisos lindos!

14 comentários:

  1. Anónimo00:14

    E no papai noel também acerdita o menino?

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  2. @amoroso - ainda há pessoas felizes! E mais não digo para não ser ofensivo!

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  3. Anónimo00:49

    Parabéns por conheres o Portugal profundo. Também conheço uns quantos sitios assim onde me refugio sem fones e sem livro para poder esquecer-me do resto e lembrar que é necessário tão pouco para ser feliz. Gosto de pensar que nem que seja por algumas horas faço parte da alma dessa gente que ri da miséria. Adorei o post :), fez-me lembrar uma boa parte de mim

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  4. Anónimo00:50

    A sua escrita é comovedoramente boa. Aqui é um sítio onde faz pessoas felizes!

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  5. É tão bom sorrir a visualizar o quadro que acabaste pintar...

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  6. Anónimo12:23

    Até me cheirou a sardinhas..

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  7. Chocolat Noir12:39

    Tem o dom da palavra para escrever um bom livro!
    Quando é o lançamento dessa obra que tarda em aparecer?

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  8. Anónimo13:18

    e você....

    é feliz? ;)

    abraço

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  9. Anónimo18:09

    ...uma casa portuguesa com certeza...
    ...a ternura do pobrezinho...

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  10. Anónimo21:09

    Éra assim o país maravilhoso do nosso amigo que caiu da cadeira.

    Gente pobre, analfabeta, que não conhece mais do que a sua terra, não ambiciona mais do que aquilo que conhece.

    Os tipos que com sorte já foram ao médico a Lisboa, esses é que já viram mais qualquer coisa, querem um pouco mais - comunas de merda.

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  11. Anónimo21:17

    Estive a almoçar à beira rio, uma esplanada com cadeiras anatómicas, pratos divinais; as entradas: lagosta, "ovas das tais"; olhei em volta - via crianças muito bem vestidas, pessoas perfumadas, não dei por ninguém chorar, apesar do menu rondar os 200 euros.

    Gostei da forma como escreveste, mas prefiro o meu "restaurant"...

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  12. O que é a relação dos comunas com este post???

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  13. Que saudades da "minha" aldeia Corte Gafo de Baixo...;)

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  14. Tem certos dias
    Em que eu penso em minha gente
    E sinto assim
    Todo o meu peito se apertar
    Porque parece
    Que acontece de repente
    Feito um desejo de eu viver
    Sem me notar
    Igual a como
    Quando eu passo no subúrbio
    Eu muito bem
    Vindo de trem de algum lugar
    E aí­ me dá
    Como uma inveja dessa gente
    Que vai em frente
    Sem nem ter com quem contar
    São casas simples
    Com cadeiras na calçada
    E na fachada
    Escrito em cima que é um lar
    Pela varanda
    Flores tristes e baldias
    Como a alegria
    Que não tem onde encostar
    E aí me dá¡ uma tristeza
    No meu peito
    Feito um despeito
    De eu não ter como lutar
    E eu que não creio
    Peço a Deus por minha gente
    É gente humilde
    Que vontade de chorar

    CHICO BUARQUE - Gente Humilde

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