Depois de estudar arquitectura em Dresden, Heckel fundou, em 1905, uma tendência na cultura alemã que ficaria conhecida como Die Brucke, ao qual pertenceu até 1913. Este movimento está intrinsecamente influenciado pelo genial pensamento de Nietzsche, sendo que a sua denominação, Pontes, bebe das premissas do filósofo, das suas teorias sobre a capacidade dos homens.
Estamos perante um verdadeiro expressionismo, onde podemos descobrir todas as características desta corrente, uma verdadeira arte do instinto, onde ganha cor o romantismo humano na sua dramática miséria, desfloradora dos sentimentos humanos. Nestes quadros desenham-se com cores patéticas, os tons obscuros da vida, desde o amor desmedido ao ciúme, ao medo, à solidão, à miséria humana, à promiscuidade!
As figuram surgem-nos deformadas, representando mais do que pessoas, sentimentos, num verdadeiro tributo ao triunfo do sentimento sobre a razão!
Procura-se expor na tela o lado psicológico, cobrindo-a de cores vibrantes, fortes, de um modo abrupto, inesperado, quase violento, usando tintas grossas como meio de sublinhar uma visão trágica e enublada! Sem temer a fealdade!
Profundamente influenciado pelo pincel de Munch, Erich Heckel foi proscrito pela Alemanha Nazi, que o consideraram um degenerado, assistiu impotente à expulsão da sua obra dos Museus de Hitler!
Esta madrugada, partilho com o meu leitor, a Rapariga e a Boneca. Não vou tecer comentários à similitude entre as cores do quadro e as mais conhecidas obras de Munch (Madonna e O Grito), deixando para o meu leitor o prazer de chegar por si a essa conclusão! Limito-me a olhar para a jovem desnuda, sublinhar o contraste entre o trejeito infantil com que a modelo segura a boneca e as pinturas carregadas, burlescas, que lhe desenham no rosto tonalidades de pecado; convidar o leitor a dedicar um olhar a um corpo desnudo, disforme, sem curvas, sem seios, um corpo – e é sem pudor que o escrevemos – feio, sem graça, destituído de beleza! Mas será a beleza estereotipada uma característica que mereça ser retratada? Ou a beleza é apenas uma pueril ilusão que se esfuma no tempo? Como os sonhos…
"O que nunca ninguém diz, porventura com medo de parecer vaidoso, é que a inteligência tem um preço: a solidão" (Nuno Lobo Antunes)
sábado, junho 14, 2008
Erich Heckel, "Girl with Doll " 1910
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o conceito de beleza é tão vasto...há tanta beleza no binómio de Newton como na Vénus de Milo...Álvaro de Campos/f. Pessoa lá sabia do que estava a falar...
ResponderEliminarjá agora, gostei da maneira como abordaste a tragédia humana na obra de Munch
Munch, Klimt e Chagall, são para mim, os 3 monstros da pintura! Sei que
ResponderEliminaré blasfémia... mas para mim são!
blasfémia é não conhecer nenhum quadro deles!!
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