O quadro preto...

Quando há uns meses tive a insana ideia de procurar interpretar uma tela branca, fui provocado por um leitor que me sugeriu interpretar um quadro preto! Não esqueci, mas deixei que o tempo corresse, que as cores se misturassem com a vida e permitir que a inspiração me encontrasse desperto a dissecar sobre o negro!
Coscuvilhando informações, descubro que a cor preto está umbilicalmente ligada a signos trágicos, desde a morte à miséria e opressão, a trágica coloração da desgraça e do pessimismo! Contemplo um quadro negro e os outros dizem que apenas posso descobrir os infortúnios do mundo, a sofrimento, a incerteza da ausência de cor, descubro tons que os outros não conseguem ver e, envergonhadamente, peço desculpa por não conseguir encontrar no preto apenas o breu do medo sofrido, a negridão do desespero e da ausência de esperança!
Da mesma forma que o silêncio fala comigo, com o mesmo fervor que encontro na incerteza a certezas, adoro o prazer da escuridão, perder-me a contemplar o vazio, numa absurda ânsia que é a mania da introspecção, procurando na quietude dos tons, as respostas que a vida nos rouba! Onde outros no preto encontram escuro, vasculho a escuridão procurando na monotonia negra a excitação de uma resposta, os sons um pensamento que me coloca nos lábios um sorriso de esperança!
Quando outros descrevem o preto como a ausência de cores, gosto de o ler como a mistura de todas as cores, ainda que encapotadas, timidamente escondidas, esperando pelo momento certo para saírem das cinzas e nos iluminarem, como as primeiras brechas de sol que derrotam a noite escuro! Não olho o preto como o fim de um poço, escolho vê-lo como o fim de um túnel que escavamos em silêncio na certeza que da incerteza das trevas vamos encontrar a luz que nos foge, que o escuro é apenas o prenuncio da luz! Como uma noite negra, tenebrosa, carregada de todos os medos, mas que caminhamos seguros, sabendo que algures no céu, uma estrela olha por nós, sorrindo!