sábado, maio 31, 2008

Tanto chinfrim por quase nada

Depois de ler ecos indignados na “blogosfera”, estive a ver o programa da Sic sobre Os perigos da Internet. E, como suspeitava, um conjunto de lugares comuns, desde há anos repetidos por muitas pessoas. Reconheço falhas no programa: desde logo, demasiado ênfase aos blogues, como se fossem nestes que residem as maiores ilegalidades (o que está nem longe de ser verdade), algum alarmismo desnecessário e, pessoalmente, tecnicamente não gostei de Rogério Alves: poderia e deveria ter lido um pouco mais!
Mas alguns dislates que foram ditos, não justificam as reacções quase histéricas de alguns!
Desde há muito que digo uma frase, que alguns não entendem e outros não gostam: gosto muito de blogues, mas nunca achei grande piada à blogosfera! Porque são coisas bem diferentes!
Irrita-me esta coisa de ser blogger, como antes me indignava com a expressão internauta ou cybercidadão ou outras tais que foram sendo debitadas nestes anos (poucos) de Internet! Quiçá preconceito meu, mas sempre me incomodou esta necessidade de catalogar pessoas, inclui-las em grupos ou classes, como se a individualidade fosse algo pornográfico! Dizer que há uma blogosfera, procurar colocar no mesmo saco todas as pessoas que têm ou consomem blogues, é tão ridículo como olhar um partido político e procurar nele toda uma sociedade!
Não vou escamotear a evidência: também do universo dos blogues, existe uma espécie de casta, os históricos da blogosfera (a quem todos muito devemos, que fique claro), que funcionam em circulo fechado, comentando-se e “linkando-se” uns aos outros, que tendem a reagir a todas as criticas de forma demasiadas vezes exaltada, resquícios de uma sociedade corporativa, em que toda a observação critica é entendida como uma ofensa! E voltam as palavras censura, fascista, impróprios recorrentes, sempre que alguém ousa falar em regulação da rede, no primado do Direito sobre a Internet em geral, os blogues em Portugal! (e recordo bem, as mais das vezes com o sorriso, todos os mimos que me dedicaram, quando fiz um artigo jurídico sobre blogues). No entanto, importa nunca esquecer, que são hoje uma minoria, sendo este estranho mundo dos blogues formado por pessoas extremamente divergentes, um verdadeiro espelho sociológico de um País, onde encontramos do bom ao bestial, do mediado ao medíocre, passando pelo excepcional e pelo vergonhoso: porque a net é apenas um veiculo, conduzido por milhares de pessoas com diferentes idiossincrasias!
Mais importante que gritar indignação, urge pensar a Internet, optimizar os mecanismos que já existem para responsabilizar os infractores (uma clara minoria, sem dúvida), separar o trigo do joio, sensibilizar os fornecedores de conteúdos, empresas e individuais, para quais as práticas que são ilícitas e, mais importante de tudo, alertar pais e educadores, para os perigos que se escondem no modem! E se o programa da Sic serviu para alertar os incautos, então, a Sic fez um bom serviço público de televisão!

10 comentários:

  1. Não vi esse programa, para mais, não acho muita piada à SIC.

    Pois, em Portugal existe o hábito de classificar as pessoas, de lhes por uma marca, de lhes colocar um carimbo na testa.

    Agora, todo e qualquer site na net, seja blog, Hi5, myspace ou outros do género, não passam disso mesmo, de sites na internet. Quem gosta, lê. Quam não gosta, não os lê, e pronto. Isto é como um programa de televisão, existem telecomandos para mudar ou então, existe um botão para desligar a TV...

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  2. A reportagem e o debate não tiveram ponta por onde se lhes pegasse, nem um pingo de verosimilhança... Tráfico de armas?!?!? Além de que se confundiu internet com blogosfera... O que se viu foi 4 almas a falarem do que manifestamente não conheciam! Acho que justifica alguma indignação. Aquilo foi mau demais!
    A classificação e os rótulos são uma questão de categorização e de disciplina mental... Blogger é alguém que escreve num blogue! Por mim, ok.

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  3. @politikos - sublinho no texto que foi dado um ênfase desmedido aos blogues, confundindo-se uma parte com o todo: e, nem é nestes, que se utilizam para tráficos de armas ou pessoas!
    E reconheço que alguns deviam estar mais preparados: mas, continuo a entender, que muito do que li, foi despropositado, uma enorme dificuldade em ligar com a crítica!
    Não disse no texto, mas em privado, uso dizer: há tipos que gostam mais de blogar do que dar quecas! O que explica alguns excessos...

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  4. Anónimo01:35

    Uma boa reflexão Hugo! Mas eles não entendem!

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  5. Anónimo15:04

    Os Media tradicionais ainda têm grande reticências em relação aos blogues. Aqui concordo (genericamente) com a posição que Daniel Oliveira assumiu no Arrastão.

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  6. Anónimo01:10

    Citando do seu artigo:

    "Mais importante que gritar indignação, urge pensar a Internet, optimizar os mecanismos que já existem para responsabilizar os infractores (uma clara minoria, sem dúvida), separar o trigo do joio, sensibilizar os fornecedores de conteúdos, empresas e individuais, para quais as práticas que são ilícitas"

    e

    "em que toda a observação critica é entendida como uma ofensa! E voltam as palavras censura, fascista, impróprios recorrentes, sempre que alguém ousa falar em regulação da rede, no primado do Direito sobre a Internet em geral, os blogues em Portugal! (e recordo bem, as mais das vezes com o sorriso, todos os mimos que me dedicaram, quando fiz um artigo jurídico sobre blogues)."

    Mas porque raio invoca a "regulação" e outras medidas "pensadas" como se isso não existisse já e há muito tempo até?

    Onde é que lhe falta mesmo legislação e regulação que é para eu perceber melhor?

    Os ISPs até são obrigados (a meu vêr inconstitucionalmente) a guardar todos os nossos acessos para efeitos judiciais, e em Portugal. A menos que você tenha um acesso muito especial sempre gostaria de saber como se safa à regulamentação.

    Até mais.

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  7. Anónimo01:12

    O que essa gente fala não é de "regulação" mas sim de "censura" pura e dura... ou então não ouvimos os mesmos discursos do MST, PAcheco Pereira, César das Neves, etc, etc, etc, que aparecem recorrentemente na imprensa "dita séria".

    Boa noite.

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  8. @ Mário - é complicado em comments sintetizar centenas de páginas escritas, mas procurando responder à pergunta que me faz!

    Onde falta regulação? Desde logo ao nível da cooperação internacional, ao nível da responsabilidade civil e da responsabilidade penal, por crimes com moldura inferior a 3!
    Espero ter esclarecido!

    Ps - Fala em alguns nomes; recordo apenas, que eu comecei a escrever e defender as minhas posições, bem antes das posições a que faz referência!

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  9. Anónimo15:26

    Mas esse é o príncipio errado. A cooperação nada tem a vêr com regulação. Penso que você entende isso tão bem como eu.

    As Leis e as Regras existem. O que você está a falar é de Política e isso pouco interessa para o tema em apreço.

    Lá porque os jogos políticos obstaculizam o funcionamento das Leis (ou criam Leis para proteger os malfeitores, como o caso da Fátima Felgueiras que fugiu para o Brasil, ou do que fugiu para o Japão, para aproveitarem a imunidade da dupla nacionalidade e evitarem a extradição) isso não deve permitir que nós prescindamos da nossa Liberdade e dos nossos Direitos Fundamentais para que se criem Leis ditatoriais (veja-se o caso dos EUA e das Leis anti-terrorismo) que são frequentemente mal aplicadas pelos mesmos políticos que impedem propositadamente que as Leis menos ditatoriais funcionem.

    Como você deve saber a maior parte dos problemas surgem com questões de difamação em países europeus e sites alojados nos EUA... mas se o caso se passar no mesmo país onde o servidor está alojado ou a empresa prestadora do serviço está sediada olhe que a cooperação é total, rápida e eficaz. E eu sei mesmo do que falo.


    P.S. As pessoas que eu referi falam de censura sob a capa da "regulação" e não de verdadeira regulação que até já existe. Não se deixe você embarcar no mesmo barco.

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  10. @mario: também tento saber do que falo! E o que penso, está escrito e sujeito à critica!
    E sei porque falo em regulação: veja o caso do ICANN! Entendo que apenas cooperação é pouco para situações tão pluri-localizadas!
    E sou grande defensor das liberdades: daí que coloque SEMPRE o enfase na decisão judicial para obstaculizar ao anonimato!
    E... é exactamente para evitar censuras, que sempre defendi uma melhor regulação, mais coerente e mais eficaz, combinada com um outro conjunto de mecanismos!

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