As minhas memórias são mitigadas e carcomidas pela passagem dos anos; vasculho nos retalhos da mente e suponho que uma mão seja suficiente para contar nos dedos as raras vezes que passei aquele portão alto, as paredes frias de pé alto num antiga palacete, sito na avenida Vasco da Gama. Mas recordo-me que era austera, silenciosa, gélida e distante, com uma diligente funcionária sempre alerta para mandar calar ao menor sussurro. Sem mácula! Porque naqueles tempos, aqueles locais eram sumptuários de mudez. Até que a cidade nos ofereceu modernidade. Num espaço amplo. Iluminado. Com vidros que deixavam penetrar a vida. E com barulhos. Um espaço vivo, habitado por gentes, direccionado para as pessoas. Mais que uma razão para amar Beja, a Biblioteca Municipal de Beja - José Saramago é uma razão para amar o universo da leitura! Ou para quem ama a música e a imprensa. Ou precisa de acesso à Internet. Um espaço que recebe com carinho as crianças e lhes proporcionam um ambiente único. Como se pode ler na sua declaração de interesses "mais do que um espaço físico com mais ou menos livros, a biblioteca foi desde sempre uma forma de intervir, de questionar e comunicar, e assume-se como um lugar de desassossego cultural, um ponto de encontro, uma casa. A casa do livro e da cultura. Mas uma casa de janelas abertas ao vento e ao sol." Não vou fazer a hipocrisia de escamotear que nos últimos anos a Biblioteca perdeu o papel crucial de maior promotor da cultura na cidade: as palavras andarilhas perderam a sua "anualidade", nos últimos anos perdeu-se a excepcional iniciativas das vinte e quatros horas abertas para comemorar a leitura, que os constrangimentos orçamentais fizeram perder o brilho aos agradáveis serões que fizeram desfilar na cidade largas dezenas de vultos únicos na cultura portuguesa. Mas neste espaço optamos por sublinhar a excelência. E no caso da Biblioteca, se a oferta literária é muito interessante, se arquitectonicamente o espaço está bem conseguido, se os funcionários são diligentes, se o conceito do espaço é soberbo, importa não esquecer a excelência do trabalho de quem passou da ideia à sua concretização e ajudou a que a Biblioteca de Beja tenha sido uma das melhores em Portugal: ao Dr. Figueira Mestre fica o público elogio!
Fica-lhe bem a sua homenagem ao seu amigo Figueira Mestre!
ResponderEliminar@anónimo - Seria abusivo da minha parte considerar-me Amigo do Dr Figueira Mestre. Vimo-nos muito poucas vezes, privámos uma única vez: se é verdade que o Dr Figueira Mestre foi atencioso e simpático para comigo, não é menos verdade que foi amabilidade de anfitrião.
ResponderEliminarPercebo o que quis dizer, mas seria arrogância minha considerar-me amigo do Dr FM.
Você é muito engraçado, quando nas áreas do municipio as coisas correm bem o mérito é dos técnicos, quando correm mal a culpa é dos executivos. São formas de ver as coisas com a sua habitual isenção.
ResponderEliminarIsto não retira um unico ponto ao mérito que Figueira Mestre tem no sucesso deste equipamento.
@anónimo - não ler aqui um elogio à CMB é cegueira. Mas entendi - por razões que alguém lhe poderá explicar - estender o elogio ao Dr FM.
ResponderEliminarMais. Quantas vezes neste blogue nao foi elogiada a CMB???!!!!
...Dr Figueira Mestre foi atencioso e simpático.... ? mas estamos a falar na mesma pessoa???
ResponderEliminarhi hi hi
@anónimo - escrevi honestamente a minha opinião. Sem medo de ser contraditado!
ResponderEliminarSou, Fui Amigo "particular" do Figueira Mestre. Conheci de muito perto todas as suas fraquezas e méritos. E nunca li nenhum livro dele, nem autógrafo tenho. Fica aqui na minha mente tudo o que me passou da sua vida em detalhe.Só coisas de seres humanos lhe podiam ter acontecido. E que eu saiba, pedra-pedra, ninguém atirou ...
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