Terá sido então inútil todo o meu desejo, e não voltarei a ver-te no meu quarto com o ardor e arrebatamento que me mostravas? Ai, que ilusão a minha! Demasiado sei eu que todas as emoções, que em mim se apoderavam da cabeça e do coração, eram em ti despertadas unicamente por certos prazeres e, como eles, depressa se extinguiam. Precisava, nesses deliciosos instantes, chamar a razão em meu auxílio para moderar o funesto excesso da minha felicidade e me levar a pressentir tudo quanto sofro presentemente. Mas de tal modo me entregava a ti, que era impossível pensar no que pudesse vir envenenar a minha alegria e impedir de me abandonar inteiramente às provas ardentes da tua paixão. Ao teu lado era demasiado feliz para poder imaginar que um dia te encontrarias longe de mim. E, contudo, lembro-me de te haver dito algumas vezes que farias de mim uma desgraçada; mas tais temores depressa se desvaneciam, e com alegria tos sacrificava para me entregar ao encanto, e à falsidade!, dos teus juramentos. Sei bem qual é o remédio para o meu mal, e depressa me livraria dele se deixasse de te amar. Ai, mas que remédio... Não; prefiro sofrer ainda mais do que esquecer-te.
Não me interessa a controvérsia: posso morrer estúpido mas irei sempre acreditar na veracidade da lenda, na autoria apaixonada das cartas, de uma paixão maior que o seu tempo que rompeu as fronteiras do espaço. Porque a Soror Mariana Alcoforado é Beja e é Alentejo, é paixão que se consome entre o cruel destino e a desesperança, que estoicamente enfrente as adversidades da vida, sem nunca perder a capacidade de sonhar! De certo modo Beja tem sido um amor adiado que se tem recusado a enterrar a chama em acreditar que os finais ainda podem ser felizes; tal como a nossa heróina, ser bejense tem sido nao se resignar, procurar contrariar o infortunio, tentar vencer o convencionalismo, procurando agarra-se à esperança mesmo em tempos de incerteza e de abandono. Mas Mariana Alcoforado é também a vertical coragem de assumir o amor que sente, o desejo que lhe corrompe as entranhas, o desejo de carne e prazer, numa abordagem directa e frontal que a velha Europa ainda não conhecia no século XVII! Viver na terra de Mariana Alcoforado é concerta uma excelente razão para amar esta estranha cidade…
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarGosto desse amor "entranho".
ResponderEliminarEu, que pouco sei de demografia, e que assisto ná décadas ao abandono das terras, perplexo-me com a resistência das cidades outrora dependentes da agricultura.
Porque na ausência de agricultura ou indústria suficiente, tendem a ser "incestuosas" (fornecedoras de serviços para a sua própria população) e a definharem lentamente.
A história de Mariana Alcoforado e as suas famosas cartas são, sem dúvida, um dos principais motivos de orgulho para amar esta cidade.Só uma pequena nota, Mariana não era nomeada por soror, mas sim por Dona ou madre, já que as filhas da nobreza conservavam o titulo mesmo no interior conventual. Assim, ao nos referirmos a Mariana Alcoforado, devemos dizer madre Mariana Alcoforado ou então Dona Mariana Alcoforado. Soror eram apenas as plebeias ou as oriundas da burguesia.M&M
ResponderEliminarHoje está muito espalhada a ideia de que as cidades têm todas que ser digitais, jovens, frenéticas, empreendedoras. Ai do autarca que não comungue desta ideia...Será que todas as cidades devem eleger esses objectivos como traves mestras do seu desenvolvimento???? Acho que não.
ResponderEliminarDeixo aqui para reflexão a seguinte ideia: As coisas boas que beja tem são: a pacatez, a quase ausencia de criminalidade,o clima ameno,a qualidade ambiental, o mundo rural a dois passos de casa, ainda preservado e autentico, os laços de vizinhança, a tranquilidade das suas ruas e praças,a paz dos que aqui vivem, o seu património.Isto é, em minha opinião...M&M
(Continuação) a mais valia da cidade. E terá que ser a partir daqui que se deverá erguer um projecto de cidade que, sem ignorar e muito menos ostracizar tudo aquilo que de inovador caracteriza as cidades contemporâneas, alavanque um projecto diferente que nos individualize e potencie o que de melhor temos. Uma cidade solidária, uma cidade de vizinhos,uma cidade que promova a fixação definitiva ou temporária de reformados dos paises do norte da europa que aqui, mercê de uma politica que envolvesse o sector público e privado, assim como cooperativas e a rede social, a universidade senior, a acos, o politécnico, etc possibilitasse desenhar um projecto estratégico para a cidade. Aqui fica dificil avançar com todas as componentes e ideias que este projecto pode ter, mas fica a ideia, que é uma coisa cada vez mais rara.M&M
ResponderEliminarM&M - Revejo-me em muitas das suas opiniões: a Beja que escolhi foi essa que descreve. Mas permita-me um ligeiro acrescento! Ultrapassamos por agora um gravíssimo problema de desertificação, sendo urgente que a cidade consiga atrair cerca de 1000 pessoas. Por exemplo, as oficinas da TAP poderiam mudar a imagem da cidade, limpar a crise do imobiliário e permitir manter a depauperada actividade comercial!
ResponderEliminar@capitão - Infelizmente Beja e o todo o interior há muito que deixaram de "viver" com a premência de "sobreviver"!
ResponderEliminarUma rede de espaços de apoio á 3ª idade empregava muito mais pessoas.E estes homens e mulheres do norte da europa traziam um poderoso valor acrescentado: cultura, conhecimento,modo de vida,ideias, inovação. Ao mesmo tempo poderiam pagar a construção e funcionamento de lares para os nossos idosos e de infantários para as nossas crianças.M&M.
ResponderEliminarJá defendi publicamente o turismo sénior como uma solução para o desenvolvimento sustentado! Mas.. seria importante algo com efeitos imediatos: e é nesse sentido que falo da TAP!
ResponderEliminarNao me preocupa nada a crise do imobiliário. Se não conseguem vender as casinhas, coloquem-nas em saldos. Já viu os preços das casas baixarem?????M&M
ResponderEliminarDeixemos funcionar o mercado....M&M
ResponderEliminarM&M - Olhe que muitas baixaram (as usadas): mas simplesmente não há procura. E.. sem pessoas, não há mercado...
ResponderEliminarM&M diz que as cidades podem sobreviver sem serem empreendedoras?
ResponderEliminarQue "a pacatez, a quase ausencia de criminalidade,o clima ameno,a qualidade ambiental, o mundo rural a dois passos preservado e autentico, os laços de vizinhança, a tranquilidade ..., a paz ..., o seu património"
Mas é suposto Beja ser uma cidade ou um Parque Temático para a 3ª Idade?????
Enfim, cada um retira o que quer ou o que lhe dá jeito. LOnge de mim pensar a cidade como um parque temático, qualquer que seja a idade. Com honestidade, não retira nada disso daquilo que afirmei. Até, em determinada altura, sabendo o que a casa gasta, tive o cuidado de dizer e cito: "E terá que ser a partir daqui que se deverá erguer um projecto de cidade que, sem ignorar e muito menos ostracizar tudo aquilo que de inovador caracteriza as cidades contemporâneas, alavanque um projecto diferente que nos individualize e potencie o que de melhor temos". M&M
ResponderEliminarM&M eu acho óptimo que se defendam os valores de solidariedade.
ResponderEliminarNão o queria contrariar ou alterar o sentido do seu comentário. Parece-me difícil turismo ou industria com relevãncia em Beja.
Creio que o seu motor deverá ser a agricultura/pecuária, exploração mineira e eventual transformação dos seus produtos.
No Alentejo houve minas ( p ex: Neves-Corvo)que renderam milhões e que pouco beneficiaram o alentejo e o país.
Os meus votos de sucesso para todos os bejenses que lutam pela sua cidade!
Começo a perceber cada vez mais essas cartas desta(s) Mariana(s)...:)
ResponderEliminarcapitao, eu acho que a diversidade deve ser uma das ideias chave. Agricultura, pecuária, agro-industrias, cultura, vinhos, azeites,gastronomia, turismo, fixação de pessoas,enfim...
ResponderEliminar