Alentejo...

De todos os quadros que desfilaram neste espaço nos últimos nove meses, este será provavelmente o pior de todos! Com toda a certeza por ignorância minha, desconheço o autor do mesmo! E assumo despudoradamente a blasfémia de confessar que era incapaz de o colocar na minha sala, ou qualquer outro recanto de casa!
Nem posso esconder-me, em jeito de desculpa ou expiação, na beleza da paisagem: humildemente admito que ver o restolho perdido no espaço, árvores tímidas, envergonhadas no horizonte, a barra azul que decora uma casa pobre, não constitui uma imagem de sonho! A paisagem alentejana, retratada ou pintada, não tem o encanto das do norte, a magia das águas do mar, o mistério dos rios ou o fascínio das montanhas; nem mesmo o calor cosmopolita das grandes cidades, apenas a rusticidade de um tempo que parece esquecido no tempo, tons quentes de temperaturas exasperantes, contrastes que parecem iguais!
A honestidade obriga a reconhecer que o Alentejo profundo não tem a beleza estonteante de outras regiões, de outras paisagens; a beleza da planície não se desenha num quadro, em lentes de máquinas ou nas objectivas das câmaras! Para compreender a beleza deste quadro é necessário passear nestas planícies, beber estes cheiros, sorver na pele estes calores e frios, sentir os sabores, conhecer estas gentes estranhas de uma simpática timidez, simultaneamente ingénuas e desconfiadas, que se entranham na vida dos estranhos.
O meu leitor de além-Tejo, que contempla com desdém este quadro de pintor desconhecido, compreenderia a escolha deste sábado, se circundasse nestes trilhos carcomidos pelo esquecimento, deambulando em vielas de pessoas tristes de rostos cansados, que caminham pacatamente nos caminhos que escolheram! Com calma! Porque no Alentejo o tempo ainda passa devagar, como a brisa suave faz cócegas ao trigo que pinta de oiro a planície!

Adenda Fora de Contexto: Música Nova: David Fonseca, que está agora a cantar na Ovibeja!